sábado, 24 de dezembro de 2011

Por que eu AMO o Natal

1) É o único motivo para que não pule Dezembro.
2) Todas as cidades que eu conheço ficam mais bonitas, principalmente a noite. São luzes de Natal por toda parte, e muitas cores, enfeites bem coloridos, bolas, trenós, duendes, animais, árvores gigantescas e músicas.
3) Sim, eu adoro as músicas de Natal (se bem que eu reconheço que Simone não dá). São alegres, esperançosas, com toques infantis. Eu não paro de cantarolar e fico procurando versões mais bonitas todo ano. Ah, tem os filmes também! E que não venha uma alma chata dizendo que todos são iguais: continuo achando eles super divertidos.
4) Ir ao shopping geralmente é um programinha chato, mas apesar da multidão, vale a pena dar fazer uma visitinha só pra curtir a decoração. Esse ano, fiquei encantada com um urso gigante que abria os olhos e falava com as crianças que davam gritinhos de alegria e ficavam dançando ao redor. Achei tão fofo que quase peguei uma criança para mim, só para me dar tchau do trenzinho que passava na frente do ursão.
5) Adoro o Papai Noel, e acho divertido o quanto ele consegue se inovar. Hoje eu fiquei admirando um com uma voz linda, tocando violão na frente de uma loja em Volta Redonda. Semana passada fiquei igualzinho uma criança rindo de um em cima de uma charrete na pracinha em frente a minha casa, com os cachorros todos correndo em cima dos cavalos.
6) As comidas. Tudo fica mais delicioso no Natal. Eu saio comendo tudo, castanhas, avelãs, nozes, frutas docinhos, peru, chester, lombinho, fiesta, tortas, rabanadas, e muito mais, não tem como não ser feliz.
7) Recesso natalino!!! Eu nem curto tanto ele hoje, mas sei que logo será tão bom parar de trabalhar no dia 20 de dezembro!
8) Cai no dia no aniversário de uma das pessoas mais importantes da minha vida: minha avó. E mesmo que ela não se lembre mais que é o dia dela, não é motivo para não comemorar – uma pessoa tão linda deve sempre ser celebrada. E sempre comemos bolo.
9) Anos atrás, o Natal era a data onde a minha casa ficava mais cheia. Era incrível ter árvores de natal cobertas de chocolate, organizar peças de teatro só com os amigos e apresentar no bairro, passar a noite inteira acordada e sem ter que ligar a TV, mil comidinhas diferentes. Mas o tempo passou, mudamos, e hoje a casa fica quase vazia, não mais fechamos a rua do bairro para comemorar com os vizinhos. Mas o nosso Natal também se renovou e não perdeu a força, só ficou diferente – e continua sendo uma delícia comemorar ao lado da minha família.
10) Presentes! Amo presentes sempre, mas no Natal eles sempre são mais bonitos (e mais caros)! Fico super emocionada quando, apesar da louca correria do final de ano, dos preços, de todo o estresse, recebo um presente de alguém que gosto, que conseguir achar um momento para pensar em mim. Amo demais.
11) É certo que algumas pessoas piram nossa época do ano  - culpo Dezembro – mas outras ficam super bem humoradas. Essa semana, em vez de tchau, eu só ouvi Feliz Natal! E com essa frase sempre nasce um sorriso. Muito mais legal cumprimentar assim.
12) Eu gosto do calor do verão até o Natal, quando ele passa eu fico querendo o outono.
13) Adoro os showzinhos natalinos. Todo ano fico esperando o que vai acontecer na frente do banco da Nossa Senhora da Paz. Vejo programação de coral, e fico torcendo para conhecer as músicas. Até sigo procissão, porque fica tão legal no Natal, todo mundo com roupas largas e velas na mão. Ontem cantei na de Santa Luzia.
14) O espírito de Natal me pega de jeito mesmo. Então vejo menos motivos para ficar com mágoas do passado. Não é a passagem de ano que me faz querer tornar tudo melhor, e sim o Natal. Faço o possível para amenizar tudo que pareceu tão ruim e ganhou feições dramáticas, e tento pelo menos mandar uma mensagem para alguém que já fez parte da minha vida. Mesmo que essa mensagem não chegue, que fique só dentro de mim, acho que faz bem essa energia. E sigo a vida.  
15) É a época que mais me faz acreditar em milagres.
Feliz Natal meus amigos!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O tempo não é linear

Porque há três semanas essa frase brinca na minha cabeça e eu luto contra ela, pois não aceito, não acredito e quando acho que convenci o tempo a vida vem de palhaçada e mostra que estou errada, repetindo fatos, frases, pessoas, casos, papos, tanta coisa, e eu volto a ficar confusa e cada vez mais irritada porque percebo que eu estou sendo ainda mais redundante que o tempo querendo brigar com ele em vez de aceitar o que pode ser verdade. Mas se tudo é mesmo circular eu tenho sempre que ser teimosa porque é essa minha maneira de ser e tudo continua da maneira que ele quer, eles querem, o tempo, o destino, o universo, sempre conseguem o que querem.
E se tudo é circular, e não linear, é preciso saber se recomeçar é entrar em uma nova roda ou se no final não adianta correr esconder ou fugir, a ciranda é a mesma no final de tudo.
O tempo é linear sim e continuo repetindo e repetindo e repetindo...
Confusa, eu? Imagina.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desejos gastronômicos

Eu tenho muita pena de mim quando eu estiver grávida.

Eu sempre tive o olho muito grande para comida, mas já faz um tempo que eu tenho vontade louca por coisas que eu não gostava antes. Começou com a berinjela. Eu sempre odiei berinjela, não conseguia sentir o cheiro que dava ânsia.

Até que um dia eu entrei no restaurante que eu almoçava todos os dias, olhei para a cara da berinjela e achei deliciosa. E tive que provar novamente e foi uma paixão louca: fiquei semanas só comendo todas as variações possíveis de berinjelas e não entendo com pude passar tanto tempo da minha vida odiando algo tão, mas tão gostoso. Hoje é um dos meus pratos preferidos.

O inhame é outra paixão desse ano. Eu também sempre fiz careta, e um dia a Karine fez de almoço e eu reclamei e reclamei. E aí ela me chamou de fresca e para provar que ela estava errada (porque eu sou fresca com muitas coisas, mas não com comida!), coloquei no prato e coloquei na boca com toda a coragem do mundo. E na hora pensei, meu Deus, que delííííciaaaaaa... hoje ela tem que fazer inhame toda semana para mim.

Há um mês atrás, eu olhei um nabo na feirinha orgânica e fiquei apaixonada. Que vontade de comer nabo! Liguei lá pra casa e queria saber como fazia, come cru, cozido? Eis a resposta da minha mãe:

 - Desde quando você come nabo?

 - Eu sempre gostei, não?

- Claro que não, é muito ruim.

E até hoje eu não comi o bendito nabo e não consigo parar de pensar nele.

E ontem eu fui almoçar em um Café super gostoso no Centro do Rio, porque eu tinha que comer cookie de sobremesa. Como eu já sabia que queria doce, resolvi comer uma salada com quiche, alias, deliciosa, com pedacinhos de pêra seca e nozes, e eu estava super satisfeita com o meu almoço. Quando já estava no meu café, deliciando o meu cookie com pedaços de castanha, quando ouvi o cara na mesa ao lado falando que queria comer risoto de frango com açafrão. O QUE? Como eu não vi isso no cardápio? Eu tinha que comer risoto de frango com açafrão, mas já estava na sobremesa! Comecei a entrar em pânico, se seria muita loucura voltar a almoçar – e se ainda caberia algo no meu estomago – quando ouvi a garçonete falar:

- Esse prato está delicioso. Você quer ele mais sequinho ou molhadinho?

(COMO ASSIM, VOCÊ QUER ME MATAR??!)

- Tanto faz, você decide.

(EU DECIDO, EU DECIDO, MAS DIVIDA COMIGOOO)

E lá foi a moça, e eu fiquei tão triste na minha mesa, me sentindo repentinamente tão sozinha porque não tinha ninguém ali comigo para dividir o risoto de frango com açafrão.

Sai triste do restaurante (e pretendo voltar lá hoje e todos os dias seguintes até finalmente conseguir comer o prato) e liguei para a minha mãe. E contei para ela que comi uma salada deliciosa, mas queria muito ter comido o risoto com açafrão.

- Que bom que você gosta de açafrão! Eu já fiz esse risoto várias vezes aqui em casa e você nunca quis comer. 
- Claro que eu gosto, eu amo! Você está me confundindo com a Mônica. Estou com água na boca, que droga que não vi que tinha antes!

- O que é açafrão Leilane?

-  ...

Mas eu sei que eu amo. Eu sinto isso.

Tenho muita pena de mim quando eu estiver grávida. Acho que vou deixar muita gente doida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Crescendo

Alguma coisa mudou em mim depois que eu fiz 29 anos. Não é porque acabou o meu inferno astral, não é porque Saturno passou pela minha vida. Nada disso faz sentido mais para mim, que buscava entender desesperadamente o porquê de tanta coisa não querida estar acontecendo ao meu redor.
Na verdade, já sentia uma pequena mudança um pouco antes, mas achei que poderia ser apenas uma impressão, e logo passaria. Mas não. O que sinto está me fortalecendo e mais e mais, e sinto somente tranquilidade, o que é engraçado porque nem é uma época para me sentir assim. Seis meses atrás eu estaria perdida, confusa, raivosa. Hoje não. Paz. Acho que cresci e não mais me importa.
Será que finalmente eu fiz as pazes comigo? Eu, que estava tão perdida dentro de mim, que há anos seguia apenas o que esperavam, mas não da maneira em que eu enxergava. Eu, que sempre fui tão certa das minhas escolhas, mesmo que erradas, mas sempre minhas, acabei me ligando no automático e segui pedindo opiniões e conselhos e aceitando-os, sem força para pensar ou lutar contra corrente, o que sempre gostei de fazer.
Não sei exatamente porque me joguei pra escanteio. Eu não me esqueci dos argumentos usados, mas não sei porque foi que decidi deixar que eles convencessem por tanto tempo. A sorte é que nunca me esqueci. E como a nulidade sempre foi relativa, de certa forma sempre coexisti. Só que cansei de me sentir a vontade somente quando estou longe de casa. Claro que eu amo me achar em tantos lugares, gosto da minha natureza de ser parte do mundo como um todo, de ter a alma grande. Só que tenho que voltar a me encontrar onde me encontro. Mesmo não sendo tão mágico, mas é o agora.
Meus amigos, eu não fiquei louca de vez, acreditem. Só estou voltando pra casa, e que seja infinitivamente melhor do que já era. Prometo que não vou deixar ninguém de lado, e vou continuar sempre por perto e partindo pra briga. Mas chega dessa coisa de tirar férias de mim.
De fato, amadureci. Por mim.  

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O que penso no meu silêncio

Lembro exatamente o que pensei quando eu te conheci – sempre marca quando encontramos alguém que sabe ser feliz. Foi em um lugar com tanta gente estranha, mas quando almas se encontram, imediatamente vem a sensação de reencontro. Porque não parece o primeiro encontro, e sim mais um com um intervalo de tempo que não sabemos contar.
Pois é. Você era tão radiante que conseguíamos falar nas risadas. A sua, tão forte, tão segura, e até doía conversar com você. Risada de pessoa feliz. Já escrevi feliz antes, eu sei, e vou repetir outras vezes porque eu sempre pensava quando te encontrava – que delícia ser assim!
Não que você não tivesse peso do passado. Mas o problema era seu, e era passado. Tudo serviu para te deixar tão melhor. E aí você acabou se tornando um exemplo para todos a sua volta, mesmo sem querer.
Mas ultimamente eu não te vejo mais assim.
Não deixei de ter admirar. Muito menos de achar que você é alguém excepcional. Mas hoje, vejo que você se perdeu e nem tem mais noção disso. Ou tem, mas ignora, por ser tão dolorido pensar. Entendo. Você resolveu construir uma ideia de futuro ideal. Mas você errou. Não se pode prever o que será bom no futuro. A gente muda muito, e o que parece ser bom hoje, pode não ser suficiente amanhã.
Eu sei o quanto é difícil desconstruir uma ideia. Fere. Arde. Mata. Mas depois de todo o processo de luto, a vida segue, e a gente também. No final, sempre vale a pena, não pense que não. Não sei porque, mas o novo sempre melhora. Você sabe disso, eu sei.
Mas antes, você precisa voltar a ver. E esse será o seu momento de total solidão. Porque você reluta ainda a acreditar e não adianta ninguém no mundo inteiro te falar. Se soubesse quantos percebem, mas não podem te contar. Também, nem adiantaria. Depende de você, que vai ter abrir seus olhos e enxergar o que está tão na cara.
Para isso, é só você voltar a se lembrar de como é ser feliz. Não se assuste, essa é a sua natureza. Volte a se lembrar para novamente ser.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Anoxia


Eu ando me sentindo sufocada nessa semana, e percebo que isso sempre acontece quando passo um mês na mais intensa rotina. Estava tentando conter todo esse sentimento, mas no domingo de manha, após andar uma horinha apenas de bicicleta, lembrei o quanto amo ser solta no espaço. A pedalada não me ajudou – foi tão curta. E não ajuda quando acho que sou a única a me sentir assim. Tentei voltar para a semana cheia de aulas e para o barulho de TV, mas ontem eu tive que sair e correr na rua (porque decidi novamente abandonar a academia), apenas para me sentir dona de mim novamente.

 Ainda por cima, fiquei doente. Mas acho que fiquei mesmo foi doente da alma. Eu me senti tão sufocada dentro da sala de aula e ao contrário das pessoas que se sentem assim, e se trancam, eu quis sair para o mundo. Mas como não foi possível, tive que sentar na varandinha pequena do meu apartamento e respirar. Porque parecia que meu oxigênio tinha diminuído e só depois de horas que ele voltou. Fiquei quase meditando na mesma posição até voltar ao normal.

E aí eu li o texto de uma amiga que passeou em Bali e ela falou em anoxia. Ela já tinha mencionado isso para mim, mas eu apenas me lembrei ontem. Acho que sofro do mesmo mal – nem acho que peguei dela, sempre me senti assim e nunca soube me expressar. Às vezes, mesmo em ambientes grandes, parece que estou entubada e só fico longe bem quando profundamente respiro. Achei engraçado porque mesmo distante, minha amiga – que tem a mania de acertar as coisas – me ajudou a lembrar que eu não sou a única a me sentir assim, e no mesmo instante me sentir acompanhada.

 Apesar da definição de anoxia no Wikipedia não definir o que eu sinto (falta de oxigenação no cérebro!), entendi o sentido que a minha amiga quis dar a essa “sensação”. No meu caso, é como se a falta de liberdade limitasse meus sentidos, me enfraquecendo e me deixando fora de mim. Por isso a falta de ar. Por isso preciso sair e respirar. E a rotina tem a péssima mania de me fazer sentir assim, presa. Dizem que a vida de adulto tem que ser assim, com muita rotina. Eu acho que é mais uma coisa que as pessoas falam porque repetem as regras, mas não porque acreditam.

Essa semana, para piorar, assisti ao filme Melancolia, o que me deixou sem fôlego. A amiga que assistiu comigo disse que ainda bem que ela está numa boa fase e não estuda mais para concurso. Muito legal, eu ainda estudo. Mas acho que nem é isso o que me aperta. É o não saber se conseguirei ficar bem fazendo a mesma coisa, convivendo com pessoas que são tão distantes de mim – porque eu já sei que elas serão. É o pior lado da minha opção de carreira. Culpa desse lado virginiano ruim que cisma em tentar me deixar mais certinha para os padrões convencionais. Mas isso, ocasionalmente, só aumenta a minha sensação de “anoxia”. E nem sei se tem cura pra isso.   

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Para uma amiga

Uma das coisas que eu mais odeio é sentir que eu não possuo nem um pouco de poder sobre uma determinada coisa ou evento. Odeio quando eu não posso conduzir os eventos da maneira que acredito ser mais correta, odeio não poder decidir sobre como as coisas devem ser. Odeio me sentir tão nada.
Essa sensação de impotência me deixa muito irritada, e para não me descontrolar, o que preciso fazer é sentar, respirar muito e começar a fazer a única coisa ao meu alcance nesses momentos: orar.
Então, minha amiga, saiba que sempre que me vem à mente (e você sempre está comigo)¸ eu paro por alguns segundos e oro por você.
Eu não entendo porque tudo está acontecendo da forma como está; e ainda não sei qual será a consequencia positiva no futuro por tudo o que você está passando, mas sei que terá. E sei que agora você está tão enclausurada - só o tempo vai voltar a te abrir - e por isso não adianta conversar por telefone, porque por razões compreensíveis, você não está escutando.
Por isso resolvi deixar essa mensagem sempre presente pra você, nesse espacinho tão pequeno que de certa forma nos conecta: eu preciso dizer o quanto estou orgulhosa de você. Muito. Como nunca estive antes.
Você, hoje tão mulher, tão forte que chego a pensar que nem te reconheço mais. Mas sei que é como você tem que ser agora. E essa sua atitude de ser tão independente em  horas onde muitos desabam – e por muito menos – só confirma que você é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço.
Muita vontade do seu abraço. Logo estará tudo bem e vamos nos reencontrar e dar muitas risadas dos nossos probleminhas cotidianos. Você, adulta. E eu te admirando ainda mais.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Começo do verão

Acordada assustada no meio da madrugada, apenas para ver as estrelas. E elas era tão vivas como nunca antes tinham sido. Tão perto - apenas um pedaço de vidro separando de tocá-las. Já esperava um céu assim, mas nem tanto.

Uma viagem por puro impulso. Pode até ser boa né... Pensava que veria algumas paisagens bonitas, mas a cidade, essa deve ser infernal. Tão errada. É incrivelmente interessante. É quente e como uma piada, do nada chove, como sempre acontece no verão. É feia, e consegue ser aconchegante. É suja e também o lugar mais limpo do mundo. Uma mistureba exótica, o que combina com esse lugar tão mágico. 

Pensava que não teria nada; mas no meio do nada existe tudo. Uma paz, uma mistura de fé e encantamento. Não existe como agradecer tal presente. Presentes, aliás. Sentimentos tão revigorantes, tão...

Seria uma forma de arrebatamento? Talvez - não a que tinha pedido, afinal quantos tipos de arrebatamentos são possíveis? Mas impossível ignorar essa mistura de sensação tão indescritível, no meio de um vazio tão intenso. Tanta familiaridade, tanta vontade de ficar apenas mais um pouco. E mais um pouco depois. 

Será preciso sempre ir tão longe para se sentir assim, tão viva? 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Rezar

Eu estava a caminho do teatro, na Cinelândia, e quando saí do metrô, me deparei  com um trio elétrico, com música cristã tocando, um palco com sei lá quem gritando e um bando de pessoas pulando e impedindo a minha passagem. Isso alterou bastante o meu humor, e tive que sair passando pelas pessoas que cantavam uma música em ritmo sertanejo em um tom altamente desafinado. (desculpem, mas música de louvor seguindo a moda não dá).
Quando cheguei no CJF, pensei que nem seria possível ouvir a peça. Fiquei esperando a minha amiga aparecer, e ela chega com a cara mais amarrada do que a minha e falando: o que é isso, micareta para Deus? Precisa disso?
Eu sou evangélica desde que nasci. Falar isso às vezes deixa os meus amigos sem saber o que dizer. Eles possuem aquela imagem antiga sobre crentes – preconceitos são difíceis de se apagar, inclusive (e talvez principalmente) entre os  amigos mais intelectuais. Sem perceber, eles persistem na rixa que existe entre os cristãos. Uma coisa, ao meu ver, altamente sem sentido. Ainda mais hoje, onde muitas vezes é difícil distinguir o culto de uma missa. E mais estranho ainda, já que ambos acreditam no mesmo Deus. Tenho uma amiga que diz que ela sofre mais preconceito por ser crente do que por ser negra. Exageros à parte, não posso fingir que também não provoco constrangimento por me assumir evangélica, mesmo da minha forma torta.
Eu acredito em Deus de uma forma somente minha. Não encontrei em nenhum lugar – e já busquei em várias outras formas de rezar – respostas para as minhas perguntas. O que me faz permanecer na minha crença é que foi onde eu conheci o significado do amor incondicional. Ainda que muitos tentam destoar essa imagem, colocando temor e de certa forma, até pregando o ódio, ou a ignorância, eu deleto tais discursos (às vezes é bem complicado – como aconteceu nesse dia da “micareta”), e procuro me lembrar do que eu aprendi, e principalmente, do que eu sinto.
Para mim, a língua universal do cristianismo é o amor. Por mais cafona que essa frase pareça, acredito que é essa a linguagem que deve ser divulgada para todo o planeta. A solidariedade, a compreensão, o perdão, o companheirismo, a tolerância, o aprendizado, a alegria, tudo isso e mais é o amor em sua plenitude. Essa palavra, na sua forma não mais abstrata, e sim concreta, é o Meu Deus, em quem tanto acredito e confio. E eu tenho prova da sua existência todos os meus dias.
Além do mais, não acredito ser preciso abdicar da religião para ter essa forma de pensar. O maior problema dos não religiosos, ou dos ateus, é que muitas vezes eles são tão intolerantes quanto os que crêem de forma fanática. Manter a mente aberta é preciso para todos, assim como aceitar o Amor – seja ele uma divindade, parte da natureza, de um todo ou de um nada. Acreditar Nele nos ajuda a acreditar mais no que podemos ser, e no bem que podemos fazer para o mundo.
Realmente, para mim não é preciso uma micareta. Mas essa é a minha forma de crer. Ele está dentro de mim, e só preciso não esquecer de sempre buscá-Lo. Lembrar todos os dias de sua existência é também seguir o Seu exemplo. E é isso o que eu busco fazer, para que, quem sabe um dia, eu consiga ser completa de amor.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Comer...

Estou necessitando fazer uma dieta. Mas estou extremamente mal humorada só em pensar nisso.
Necessito porque tem novas gorduras acumulando em mim e elas não vão embora com a força do pensamento.
Odeio porque o meu estômago e o meu cérebro não entendem o que é ficar sem comer.
E o mundo conspira: semana passada teve moqueca em Meaípe, siri, macarrão premiado com salmão, arroz doce de recepção no Rio, strogonoff, mais macarrão com molho branco, pamonha goiana salgada e doce (e realmente a melhor que eu já comi) e brownie. E muita cerveja no meio.
E ainda vai ter mais japonês, mais pamonha, fondue e o pior: festas juninas chegando com tudo aquilo que tem de bom.
Medo dessa semana. Medo desse mês.
Melhor começar a academia para tentar equilibrar tudo isso dentro de mim. Antes que os meus pés se afundem de vez no chão.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Corcundinha

Às vezes sinto que carrego todo o peso do mundo nas minhas costas, apesar de poucas vezes eu deixar transparecer os meus problemas. Faço isso para não sobrecarregar ninguém, eu sei bem o meu tamanho. Mas o meu corpo eu não consigo enganar, ele sempre responde. Acho que deve ser por isso que eu sou meio corcunda.
Quando a minha auto-estima está muito baixa, fico mais curvada ainda. É como se fosse uma tática de defesa me esconder de todo mundo e me sinto entrar quase numa posição fetal, mas em pé. Dessa forma, não preciso olhar ninguém do alto, e todos vão me deixar  descansar. Parando para pensar, são esses os momentos onde me encontro mais carente. Fico tão recuada que parece só encontrei paz no silêncio, onde posso pensar sobre tudo o que se passa comigo. 
Mas um leve toque na coluna costuma rapidamente chamar a minha atenção e pronto: respiro fundo e tento me levantar novamente. Por isso, gosto quando alguém corrige a minha postura. Me faz lembrar que eu também tenho que me carregar, e para aparecer e ser bem vista, preciso estar bem ereta, bem alta.
Quem tem carga parecida sabe que o melhor elogio não é só ouvir como você está bonita ou bem vestida ou o quão inteligente você parece ser. E sim saber que hoje seu andar está tão belo que todos estão te achando uma metida, e que até param para te olhar! Quando escuto isso, aí sim, me sinto ótima e vejo que sou pau para toda obra. E que agüento muito mais peso do que eu mesma imagino, e não apenas nas minhas costas.    

sábado, 14 de maio de 2011

Frases soltas

Dizem que quando a gente não sabe o que escrever, mas ainda assim quer, tem que jogar qualquer coisa no papel, para não deixar a vontade ir embora.
Hoje o tempo está bem gostoso e estou conseguindo estudar. E sem sinal de sono.
Não estou comendo muito, e isso é muito bom, já que tenho grandes chances de ficar inchada semana que vem.
Ando com muita vontade de dançar e de nadar. Tenho que resolver isso.
Hoje você está fazendo muita falta. Engraçado né? Pouco tempo atrás eu não pensava que isso seria possível. Bem, eu sabia da que iria sentir falta, mas não imaginava a presença do pronome.
Quero muito beber cerveja ou vinho agora, só porque está proibido.
Não chove em Manaus em junho. Como é começo do período de seca, é bom para conhecer a Floresta.
Percebi que eu prefiro cantar a escrever quando estou muito, muito feliz.
Cada vez mais fico triste pelas pessoas que vivem uma vida na internet e não sabem viver na vida real. Se bem que eu não deveria, já que a escolha é delas, mas como não, se sei que tão bom olhar o mundo de verdade!
Meu cabelo anda tão engraçado que olhar no espelho me diverte.
Já falei que estou com saudades? “Fiquei feliz em poder sentir a tua falta”. Tão simples, tão lindo.


segunda-feira, 11 de abril de 2011

Amor platônico

Preciso compartilhar: eu tenho um amor platônico. A última vez que tive um, eu devia ter uns 14 anos. Deve ser conseqüência de Saturno na minha vida. Ele é alto, negro, magro definido e corre na pracinha em frente ao meu prédio, sempre ouvindo música. O problema é que ele nunca corre num horário fixo, então eu nunca sei quando posso encontrá-lo. Eu já o vi na hora do almoço, tarde da noite, e pela manha. 
O que eu não esperava era me deparar com ele saindo do Banco na esquina da rua. Fiquei hipnotizada por alguns instantes e não consegui sair do lugar. Ele, como sempre, nem ousou olhar na minha direção, ficando como sempre no mundo das pessoas altas e lindas. Quando passou o choque, pensei em segui-lo, só para saber onde ele mora. Mas o meu lado racional me brecou dizendo que não seria legal ser uma perseguidora gaga. Sim, porque eu tenho certeza que eu demoraria séculos para conseguir falar com ele. Eu tenho problemas em conversar com homens lindos, ou eu costumo esnobá-los ou fico igual uma adolescente retardada suando e rosnando frases inexplicáveis. Então eu resolvi entrar no Banco e seguir a minha vida.
Mas agora a minha rotina está toda alterada porque eu costumo sempre sair a mais desleixada do mundo para os lugares ao redor da minha casa. Como posso fazer isso agora? Se eu o encontrei no banco, posso também encontrá-lo no supermercado! Ou na padaria! Ou quem sabe, no barzinho na esquina, solteiro e falando sobre futebol! Então é melhor me preparar para o dia, aparentemente comum, mas que ele vai resolver sair universo paralelo e dar um pulinho no mundo real. No meu mundo. E eu tenho que estar bem humorada e bonitinha para ao espantá-lo de vez.
Isso tudo é a prova da minha teoria de como desenhos fofinhos românticos podem fazer mal à vida de uma pessoa. 

domingo, 3 de abril de 2011

Outono


Com a chegada da melhor estação, tudo fica mais bonito. Porque o belo não é somente o que floresce junto ao que parecia morto. E muito menos a epidemia quente e instável. Mas principalmente é o que amadurece e consegue refletir infinidade de cores amarelas, laranjas, vermelhas e ouros. É a estação que mais me aconchega. É claro que os dias começam a se tornar mais curtos e as noites mais longas, e que logo logo os vestidos estampados serão trocados por casacos monocromáticos. Mas as chuvas e principalmente as tempestades ficam escassas e o sol tão mais maduro! E a natureza canta, as folhas dançam e tudo fica mais saboroso e cheiroso e regado a vinho. Assim, tudo se acalma, e todo o drama anterior fica tão sem sentido e ao mesmo tempo tão engraçado! Amo o outono. Agora sim, como é bom voltar pra casa.

terça-feira, 22 de março de 2011

Em um dia desses...

Em dias como o de hoje, em que eu me sinto excessivamente fraca, fico imaginando que só um abraço excessivamente forte poderia me confortar. Um abraço silencioso, que durasse até durante o sonho e que permanecesse quando eu acordasse.

Talvez algumas palavras funcionassem, mas elas não poderiam ser vazias. Elas teriam que me fazer sorrir, mesmo sem a intenção. Ficaria cansada de ouvir o mesmo discurso de reflexão. Mas o sorriso honesto me faria sentir que tudo realmente vai passar e ficar bem, mesmo que essa sensação durasse apenas alguns segundos.

Nesses dias em que me sinto completamente cansada, com dores físicas sem razão realmente física, para acompanhar o abraço e o silencio e as palavras corretas, nada como um filme antigo com uma bela canção. Porque filmes antigos conseguem, sei lá o motivo, me deixar tão leve. E a canção me faz entrar no mundo dessas mocinhas elegantes, tão lindas e perdidas, já que em dias vermelhos elas tomam café da manhã em frente a uma joalheria e se sentem melhor.

Só isso.

E lá fora continua chovendo, e acredito que só possa ser com o propósito de levar tudo embora e de fazer florescer de novo.        

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sapato velho

Parece que eu pedi tanto para que nesse ano as coisas mudassem na minha vida que agora está tudo realmente mudando. Só que a iniciativa não foi minha. Eu sempre fui a primeira pessoa a partir para uma nova cidade, a primeira a fugir da minha confortável rotina. Mas desde que eu vim para o Rio, nunca mais saí. E agora sinto como é ruim ser a pessoa que fica. É tão bom sentir saudades quando eu estou longe, porque de certa forma eu logo me recupero, encantada com as novas descobertas.  Mas é muito difícil encarar todo o vazio do ficar, pois ele parece ser tão grande que acabo ficando com medo de me acomodar.

 E agora tudo parece novo mesmo sendo o mesmo sapato velho. Houve sim uma mudança, mas de portas fechadas, e agora tenho que entender que não é porque permaneço que fiquei para trás. Recomeçar dentro da rotina também pode ser bem interessante e diferente. Só preciso saber atrair as novidades para dentro do  contínuo cotidiano.      

segunda-feira, 7 de março de 2011

Amigos Gêmeos

Em cada lugar onde moro, sempre busco encontrar um amigo gêmeo. Aquele amigo que parece ser a continuação do seu corpo. Não necessariamente ele é igual a você. Nem deve ser, pois não procuro espelhos. Procuro aquele que me completa, que consegue ser o que eu tento ser ou que talvez já tenha sido. Amigo que seja materialização da palavra, acima de sentimentos carnais. Não é fácil encontrar.


Quando me decepciono com algum amigo que esperava que fosse assim, acabo achando que tudo não passa de mais uma idealização minha. Que não é possível se sentir tão a vontade com alguém. Ser eu mesma, com todos os meus defeitos, mostrando minhas esquisitices e crises e ainda assim, mesmo tão entregue a essa amizade, eu possa me sentir em paz. Sem medo de assustar e principalmente, sem medo de me arrepender de ter sido completamente transparente. Esse amigo sabe o que é duradouro e o que não é. E ri das minhas loucuras e as incentiva, porque elas não deixam de ser uma parte momentânea de mim.

É fácil ter amigos. Tenho em todos os lugares onde passei. Não é fácil ter amigos verdadeiros. Mas os de alma são ainda mais escassos. Porque muitas vezes você ama e confia num amigo e acredita que ele possa ser outra versão sua. Mas depois de algum tempo de distancia, o reencontro não passa de uma desilusão. Onde estava aquela familiaridade tão caseira de anos atrás? Acabou indo embora, o que não significa que seja ruim. Algumas pessoas passam pela a sua vida apenas para deixar um sentimento bom. Fazem parte de você também, mas não de forma tão intensa. Fazem parte da sua história. E na despedida, você consegue sentir o carinho e deseja eternamente o melhor para aquele que também te quer bem. Mas sabe que acabou o que era antes. Virou passado.

Mas com os amigos gêmeos a fraternidade passa os limites do lógico. E depois de anos sem estar em São Paulo, no ônibus que me levava ao encontro desses amigos, senti uma tranqüilidade absoluta provocada apenas pela memória dos bons momentos. Estava ansiosa, mas ao mesmo tempo preocupada com o que a longa ausência poderia ter feito com a gente. Medo de que fosse mais uma página virada, apenas uns dias de recordação e vida que segue. Mas felizmente, foi muito mais do que isso. 

E com apenas um olhar, toda a distância provocada pelos anos sem convivência magicamente desapareceu. E senti-me confortada como há tempos não sentia. Naquele momento eu soube: é verdade o que dizem. Algumas pessoas realmente existem. Algumas irmandades são eternas. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Tempero

Hoje eu fiquei com vontade de comer panquecas. E me lembrei do cheiro do seu tempero. Acho que foi um dos melhores que eu já senti. Por que será que a minha comida não tem o seu toque? Já tentei várias vezes te imitar, mas simplesmente não consigo. Repito os passos com exatidão e não consigo chegar nem perto do seu talento. Ninguém comum consegue ter ser tão bom. Você realmente está fora do padrão, tendo espaço cativo no lugar dos melhores. E aí me bateu uma tristeza daquelas, pois não sinto esse cheiro, esse gosto há muito tempo. E sei também que está chegando a hora em que nem mais poderei comentar com você o quanto você é maravilhosa.
Passei da fase de tentar compreender porque as coisas foram desandando. Nem me revolto muito mais. Consigo até sentir gratidão! Essas lembranças são só minhas e ninguém mais no mundo teve. Ninguém mais teve seu colo como eu. Ainda bem que eu sou única, algumas coisas eu não suportaria dividir. E assim eu a tive completamente para mim, só para mim. Todo o amor do mundo.
E hoje você é a minha menina, que dorme tão frágil, abraçada num bichinho de espuma. Mas um dia voltarei a ser a mais nova e sentirei novamente o seu tempero, seu braço forte enrolando doces e o seu gosto único. Comerei seu bolinho de chuva tomando chá mate. E depois me aconchegarei na sua cama e tirarei um cochilo gostoso, com cafuné de sobremesa.  

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Redescoberta

Todo começo de ano eu fico cansada da cidade. Mas nesse ano, a vontade de fugir gritava em mim. A idéia de ficar aqui em janeiro era praticamente insuportável. E tudo o que eu mais queria era correr, correr do calor, do barulho excessivo, da sujeira, da fumaça, da violência, das pessoas e das enchentes. Depois de quase oito anos, comecei a me perguntar qual é o sentido de continuar
aqui: nada mais me prende nessa cidade. Não me vejo mais morando aqui para sempre. E talvez uma mudança nesse meu momento fosse fundamental para que eu me inovasse.

Mas eu não consegui sair por muito tempo. Fui obrigada a voltar ainda em janeiro, o que me deixou enfurecida. Mas como deve existir um limite para as reclamações, embarguei na onda da "paz burguesa" para não ter que encarar o calor e melhorar o meu humor. E no meio de piqueniques debaixo de árvores, cachoeira na Floresta, mergulhos nas Ilhas, brunch da Lagoa, redescobri um Rio que eu não conhecia. Janeiro passou a ser suportável. E agora que fevereiro chegou, espero novamente me reencontrar nessa cidade que eu já tanto amei e me esqueci.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Grande menina

Quem teve a idéia foi a minha amiga Lian. Estávamos eu, ela e o Nel em Santa Teresa, em um domingo quente, comendo feijoada, tomando cachaça e conversando sobre as metas de 2011 - atualmente o meu assunto favorito. Quando eu disse que queria ter coragem de fazer um blog, ela sugeriu que eu juntasse um bando de histórias que eu tenho com fotografias minhas. Adorei a sugestão.

Eu não tenho nenhuma foto para usar nessa história. Mas resolvi colocar essa imagem do filme "Patch Adams", que eu amo de paixão.

Hoje eu estava no metrô, cada dia mais lento, e reparei uma menina me olhando curiosa. Ela devia ter mais ou menos 12 anos e estava junto com a mãe, que também me olhava. No começo pensei que eu estivesse com a cara engraçada, cantando alto no metrô, mas depois achei que poderia conhecê-las de algum lugar. Logo depois elas saltaram e sorriram para mim, e fiquei pensando quando que eu poderia ter conhecido a garota.

Entre 2002 e 2003, eu trabalhei como voluntária no projeto do Hospital Infantil de Vitória. Inicialmente eu ensinava para as crianças que estavam muito tempo internadas e acabavam faltando muitas aulas na escola. Depois, a minha mãe resolveu trabalhar na enfermaria das crianças com câncer, que na época estava carente de voluntários. Acabei me juntando a ela.
Lá na enfermaria conheci as crianças mais fortes do mundo. Quando eu chegava, muitas tinham acabado de passar por mais um sessão de quimioterapia e estavam muito fracas. Mas era só abrir o armário de brinquedos e começar a fazer palhaçadas que elas arranjavam forças para brincar, cantar e sorrir.Foi uma época em que eu sentia todos os tipos de emoção em poucas horas.
Mas nem todas respondiam às brincadeiras. Eu me lembro especialmente de uma menininha de 03 anos, que  sempre gritava de tanta dor. A mãe dela chorava muito e minha mãe levava ela para conversar, enquanto eu tentava animar a menininha, que estava com a doença em um estágio avançado. Quase sempre saia frustrada e deprimida e confesso que muitas vezes preferia ficar um pouco longe do quarto dela, para evitar chorar também.
Um pouco antes da minha saída, ela começou a responder aos tratamentos e passou a ficar cada dia mais dócil. Ainda não brincava, mas já não me olhava tão desconfiada e até esboçava um sorriso. Depois eu me mudei para o Rio, e nunca mais me encontrei com ela.
Mais ou menos três anos depois, a minha mãe reencontrou a menina e sua mãe no shopping. As duas logo a reconheceram e a menina saiu correndo para abraçar a minha mãe. Ela estava praticamente curada, com o cabelo crescendo e muito ativa. Fiquei tão feliz e tão surpresa com a notícia que eu não conseguia parar de contar para os meus amigos! É incrivelmente gratificante saber que uma pessoinha que parecia que iria partir logo estava alí, contrariando previsões médicas e fazendo bagunça no shopping.

Eu não sei que a garota do metrô era a mesma menininha frágil de Vitória. Mas eu acreditro que sim. Para mim, ela está entrando na adolescência e está linda, sempre com a sua grande mãe por perto. Ela está na escola, falando o tempo todo sobre os garotos da sua turma, sobre suas melhores amigas, fazendo curso de inglês e de natação.  Ela está saudável e não precisa mais frequentar o hospital, a não ser para exames de rotina. E ela também está fazendo metas para o ano de 2011, como passar direto na escola e arrumar o primeiro namoradinho.  

Definitivamente eu aprendi mais sobre o viver em um ano com as crianças do que em 28 anos com os adultos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Começando...

Se me perguntaram aos 18 o que eu estaria fazendo em dez anos, com certeza eu não respondi que estaria vivendo a minha vida de hoje. Eu não sabia nem que profissão queria exercer, mas tinha várias possibilidades: se eu persistisse na medicina, hoje seria uma jovem psiquiatra super conceituada e com consultas caríssimas; se fosse jornalista, já teria viajado descobrindo lugares ou cobrindo eventos esportivos; se eu cursasse relações internacionais, hoje trabalharia para a ONU. Como advogada, já teria concluído o meu mestrado na França e trabalharia com direito internacional na Europa. Se seguisse carreira artística, seria uma grande fotógrafa - produtora - diretora - pianista. Bem, eu não cheguei perto de nenhuma das alternativas acima. Acabei me formando em Direito, mas hoje estudo para concurso público, e já tenho 28 anos. Mas nao é tão frustrante... pelo menos eu não planejava já estar casada e com filhos com essa idade.
E o que essa história tem a ver com o blog? Bem, entre as minhas (muitas) idéias juvenis, uma era ser escritora. Não pensem que eu sou boa, nunca fui. Não tenho um vocabulário amplo, não gosto de português, odeio gramática e nunca ganhei prêmios em concursos de redação. Mas sempre fui uma boa leitora. Por isso acreditava que existia em mim um talento oculto que um dia apareceria, e assim eu escreveria um grandioso livro, e ele me tornaria admirada no mundo inteiro. Hoje não tenho tamanha pretensão, mas não gosto da idéia de ter deixado todos os meus sonhos de adolescente abandonados. Não me levem a mal, acredito que serei uma boa profissional no concurso que me escolher. Mas nunca quis viver apenas para uma profissão. E como os outros sonhos estão realmente perdidos pelo caminho, escrever é o mais fácil e por isso resolvi criar um blog. E ainda assim é preciso muita coragem, pois nunca gostei de ficar me expondo e escrever é se revelar pouco a pouco. O que me alivia é que terei poucos leitores fiéis e que estão acostumados com o meu jeito de ser. O que me apavora é que um dia uma pessoa estranha sem ter nada melhor para fazer, pode acabar descobrindo o meu espaço. Bem, chega de explicações e vamos em frente!