quarta-feira, 14 de maio de 2014

Mês de maio

Maio sempre foi o meu mês favorito do ano. É quando o outono está a pleno vapor: a temperatura já se mostra bem amena, as folhas caem cada vez mais depressa, o sol aparece bem ativo mas ao longo do dia vai ficando preguiçoso e depois surge a lua (alguém já reparou que as luas em maio sempre são bem vivas ?) gritando sua beleza numa noite agradavelmente fria. Para mim é quando o ano está alegre, sem pressa de começar ou de acabar, sem desespero por feriados, sem chuvas torrenciais e ainda dá pra pegar uma praia e depois tomar um vinho e tomar caldo para enfim dormir com muito aconchego.

Minha irmã chinesa/índia/preta (porque ela realmente é tudo isso junto e misturado) é uma taurina de maio e ela sempre, sempre repete o discurso de todos os taurinos de que eles são os mais fodas de todo o zodíaco. Se for de maio, melhor ainda. Aliás, que as pessoas do bem são de maio. Não gosto de admitir, mas quem nasce nesse mês tão delicado deve ter alguma energia especial mesmo. Quem a conhece sabe que o que mais propaga dentro dela é vida,  com explosões de amor constante e é praticamente impossível nao amá-la. Assim como esse mês que ela nasceu.

Morando longe da maioria que amo, eu estava precisando das conexões que me trazem paz.  Resgatei vários desses laços agora em maio. O que eles não sabem é que eu estava me sentindo solitária até nessas relações de alma. Eu me senti perdidamente esquecida em março e resolvi tentar me esquecer também. Em abril voltei a lembrar e procurei encontrar quem eu sou  dentro de mim e com breves encontros com pessoas queridas. E agora, o mês começou com a surpresa de uma nova vidinha linda no ventre de uma grande amiga, com muita espiritualidade, com calma e  Moska e Lenine e John Mayer e Eddie Vedder  em meu Ipod. E já estou carregada de amor depois de uma semana de passeio na minha cidade de coração.

Para mim é impossível viver bem sem ter essas conexões. A internet não basta: preciso de toques e abraços e de ouvir as risadas e os choros. Preciso poder me sentir a vontade, pra trocar palavras e letras e  ideias, pra brindar os diamantes que estão por vir, pra poder ser desorganizada de forma engraçada, pra brincar com gatos e cachorros e bebês e querer um dia ter filhos,  pra traçar novas viagens e mudar de profissão, pra começar novos blogs e ir dançar sorrindo, pra deixar o vento embolar todo o cabelo, pra pensar o futuro onde moraremos todos perto, sei lá em que cidade, em que ano, mas onde toda uma família não de sangue, mas de laços, irá dividir o mesmo quintal.

Maio, mês que sempre recarrega minhas baterias. Não tem como não amar. Assim como meus pedacinhos que nasceram nesse mês.



sexta-feira, 7 de março de 2014

Semana de carnaval

Fiquei a semana toda desconectada para não me achar a única pessoa fora do carnaval no mundo. Não adiantou muito. O carnaval é uma festa tão intensa que mesmo que você não abra as portas para ele, ele invade sua janela aos berros. Certo que não vi fotos dos amigos e nem liguei a tv. Mas quando eu ia dormir, só escutava as músicas e as risadas num outro mundo e tudo isso só serviu para aumentar a minha solidão.
Eu escolhi ficar longe do Carnaval – o que aliás tem se tornado comum, e eu era rata dos blocos e dos becos do samba, do maracatu e das marchinhas – com um propósito. E estava bem tranquila, como no ano passado e no anterior, quando fiquei com minha vó e depois tanto barulho perdeu seu sentido, com a decadência da festa que eu conheci anos atrás. Mas dias antes do feriado, o meu vazio se intensificou de uma forma tão grotesca e ficar sem as notícias carnavalescas no final apenas intensificou meu sentimento de desconexão com o mundo. Foi tão de repente – eu estava segura e tranquila, e aí de repente senti que perdi todos os laços da minha vida e no final tive essa certeza – bem no meio da festa, e eu sentia como se um bloco inteiro passasse em cima de mim sem que eu conseguisse respirar.
Engraçado como essas coisas acontecem sem aviso. Não estava preparada para enfrentar esse vazio porque ele não deu sinal como geralmente acontece, uma melancolia que surge e vai progredindo. Simplesmente apareceu. E trouxe com ele todas as escolhas que fiz na vida – e todas aparentemente erradas. O vazio só apontava o dedo e gargalhava da minha ignorância, da minha inocência e tudo perdeu seu propósito. Tudo. E aí eu me tranquei e chorei por um tempo impossível de ser contado, até que pedi uma trégua porque eu tinha virado um nada. A trégua durou minutos mas acabou e tudo voltou de novo e só foi embora depois que gritei, eu e minha mãe gritamos, porque eu estava quase morrendo em mim. Depois amanheci.
Quase todo mundo que conheço hoje faz terapia e todos me falam que processos de autoconhecimentos são dolorosos e podem ser fatais, mas sobreviva a eles porque são necessários. Esse não teve nenhuma orientação, e nenhum acompanhamento. Talvez por isso tenha sido tão bruto. Dizem também que depois do Carnaval os Espíritos que foram soltos retornam pras suas casas e é uma época muito delicada porque eles podem querer brincar com você antes de partir. Acho que quiseram me ferir mesmo e foram embora satisfeitos porque me massacraram.
 Mas, ironicamente, quando amanheci, a primeira memória que veio foi do olhar de um esquecido. Eu não lembrava mais dele, parece que foi em outra vida. Eu odiava a faculdade de Direito e pensava em com largá-la, no quarto período, quando visitei pela primeira vez uma prisão. Eu me deparei com  esse preso com um olhar duro. Fizemos algumas perguntas mas ao contrário da maioria, ele não queria falar, não parecia querer sair dali. Como não queria sair? Só nos olhava em silêncio, até que focou em mim. Eu tremi, mas não de medo; tremi porque por segundos eu também me senti um nada. Foi quando comecei meu discurso com viés criminológico e abandonei tantos ideais burgueses, passei a parar de ocultar problemas, foi quando passei a ter um olhar crítico da realidade. Eu saí daquele lugar tão transtornada que decidi pelo caminho mais difícil – e decidi que a única maneira de realmente merecer o mundo seria fazendo o possível pelos abandonados do sistema. Existem outros caminhos menos pesados, mas na época parecia que apenas esse era eficaz. Um erro talvez, e se foi é mais um pra minha coleção. Mas foi uma escolha sincera.
Na vida que acabei construindo, nunca desenvolvi nenhum talento real. Nunca fui a inteligente, a esperta, a criativa, a bonita, a iluminada. Sempre lutei contra a dislexia, contra piadinhas aparentemente inocentes, xingamentos e cheguei por um tempo a construir uma barreira onde fingia que tudo era exagero porque era mais fácil esconder. Hoje quebrei muitas pedras, mas continuo sendo a típica pessoa mediana. Só tenho de especial o que todos nós temos, um amor, que é gigantesco, que é louco pelo mundo, pelos presentes da vida, e ele vai ter que ser o suficiente para que acreditem em mim porque não tenho nada além. Acho que justamente porque nunca me destaquei, sempre acreditei que não é preciso nenhum plus para ser feliz. Mas é fundamental ter alguém que acredite e que te ajuda a não ser engolido por um sistema que só privilegia os talentosos. E isso é o que eu tenho pra oferecer pro mundo e no final compensa muito, mesmo sem aplausos ou gritos de uma multidão. É quando me torno de verdade a pessoa mais feliz do mundo.
Talvez por tudo isso, depois que lembrei do que tinha esquecido, eu comecei a rir. Gargalhar na verdade, loucamente, ainda deitada na cama, no chão. Levantei, olhei para o sol e agradeci pelo meu carnaval. Engraçado como às vezes é necessário voltar pra casa porque sobra tempo pra entender todo o período que você passou fora, pra pensar em tudo que não dava tempo. Ainda dói e ainda não voltei a sentir os laços apertados, ainda me sinto com frágeis conexões. Mas minha base é forte, e o meu santo ainda mais. Faço bagunças, me atrapalho, mas não tenho preguiça para ajudar um igual a se levantar. E é assim que um dia vou acertar mais a tecla e talvez no ano que vem eu esteja mais conectada para voltar a pular o Carnaval e acreditando realmente na alegria dele. 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Eu, o Mar.

Quando eu era pequena, eu conseguia escutar a voz do mar. Eu chegava na praia e o cumprimentava e ficávamos horas conversando. Eu entrava na água com a sua benção e dentro dele continuávamos o papo. As vezes ele me mandava sair e eu não queria, mas aí ele me expulsava e eu tomava um caldo. Ou então ele queria que eu entrasse e eu não queria, só de birra, e ele ficava bravo e parava de falar comigo. Mas logo fazíamos as pazes. Quando minha mãe me chamava pra ir embora eu falava: mas o mar quer que eu fique mais um pouco! E eu sempre me despedia dele antes de ir, de viajar de volta pra minha cidade, muitas vezes chorando e prometendo que não ia demorar para voltar. Ele ficava triste, mas sabia que eu logo voltaria. Afinal, amigos de infância nunca se abandonam.
Fui crescendo e cada vez eu chegava na praia com mais amigos. Comecei a ter vergonha de confessar para eles que ouvia o mar de verdade. Então eu fingia que era normal chegar na praia e ficar sentada na areia antes de ir conversar com o mar. Ele ficou bem chateado no começo, mas acho que sabia que isso aconteceria – que eu perderia parte da magia da infância e me afastaria dele. Que eu ia ocultar as nossas histórias até que se tornassem irreais. Mas não tive coragem de abandoná-lo de vez. Eu passei a ficar mais tempo na areia do que dentro dele, com os novos amigos e paqueras, mas sempre que eu conseguia fugir, eu corria pra pelo menos falar oi e dar uma piscadinha, pra mostrar: eu continuo aqui! Envelhecendo, mas sempre aqui.
Hoje, adulta, aprendi a conversar com meu amigo em silêncio, e não somente pra não me acharem doida, porque não sinto mais vergonha. Mas o papo ficou mais sério e não quero que todos saibam. Não consigo escutá-lo mais como antes, uma voz tão clara e forte. Hoje escuto seu silêncio e ele o meu. Com a chegada do ano novo, fiz o que não fazia há tanto tempo: fui até ele, apenas para sentir a nossa ligação. Eu me abri completamente, mostrei meus medos e meus desejos e pedi a sua força nos momentos em que eu me sentir sozinha.Voltar pra essa casa me faz sentir desconectada do mundo e completamente perdida. Mas foi só me banhar e o meu amigo imediatamente me acalmou. Como só os velhos conhecidos de alma fazem.

Talvez eu seja mesma filha do mar, como sou do fogo,  da terra e do ar. Filha da Natureza e do Universo. Talvez seja verdade que sejamos um só, matéria, verde, bicho, gente, espírito. E por isso talvez que eu seja tão inquieta, porque quero ouvir as vozes desse todo que vive em mim, pois nunca consegui silenciá-los. Na verdade, eu nunca quis. Porque eu sempre serei amiga do mar. .E ele nunca deixará de me acalentar.  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Para 2014

Estava lendo o Evangelho com minha amiga, e após a leitura sempre debatemos e tentamos encaixar exemplos do nosso cotidiano. Mas nesse dia eu estava um pouco distraída, pensando em tanta coisa que aconteceu nos últimos dias, e quando minha amiga perguntou o que eu tinha entendido da leitura, disse, um pouco entediada: ah sim, temos que passar pelos momentos ruins pra ver se assim a gente consegue evoluir espiritualmente. Ok. Ela sorriu e me disse: eu não acho isso! Acredito que podemos aprender tanto, estudando, escutando, orando, e se aplicarmos essa energia boa no nosso dia a dia, nem precisamos viver esses momentos tão complicados. Claro que eles sempre vão existir: mas podemos facilitar muito toda a dificuldade. Dessa maneira, melhoramos espiritualmente e carregamos menos raiva, menos culpa, menos frustração dentro da gente, e seguimos mais leves em frente.
Achei engraçado porque eu costumo ser sempre mais positiva do que ela. Mas se eu paro pra analisar esse ano, não fui assim. Pensei em desistir muitas vezes. Cansei de tanta coisa, no começo eu ainda me preocupava em me manifestar sobre os ridículos acontecimentos que não paravam de surgir, até que parei. Comecei a ficar quieta, inclusive nos ataques, mas me incomodava, queria gritar, e reclamava as pessoas mais próximas, incrédula com o mundo, com a cegueira coletiva, e no final eu estava completamente sem esperanças. Quando minha amiga fez falou com toda a calma comigo, sorrindo, tão linda, eu comecei a rir com ela. Ficamos conversando de como encaramos os últimos episódios estressantes em nossas vidas, envolvendo pessoas queridas ou não, e o que concluímos é que todas as vezes que não reagimos impulsivamente, que conseguimos pensar e não ofender ainda mais o outro, foi quando contornamos de melhor maneira a situação e nos sentimos mais tranquilas.
Esse foi um ano pesado para nós duas. Pesou mais quando nossa reação teve a mesma intensidade da ação, ou quando extrapolamos. Mas nos momentos em que tivemos paciência, tudo se tornou mais simples. Seja numa viagem que tinha tudo pra dar errado; nas brigas com as amigas ou com o namorado; nos problemas familiares; no trabalho, nos ataques pessoais... e o que foi muito importante também foi colocar menos expectativa nas pessoas. Cada um tem o seu momento de enxergar, cada um tem a sua história, e a própria carga. Bater boca em momentos quando o outro está sedento por briga, ou exausto depois de tanto trabalho, torna um mais surdo do que o outro. Já quando esperamos pacientemente o melhor momento para agir, deixando ir embora toda a mágoa, toda a raiva contida, a recompensa costuma ser maior.

Então, em 2014 eu pretendo ser capaz de ter mais paciência para conseguir ter mais paz e transmitir mais otimismo. Ahhh, desejo tanta coisa! Acreditar mais. Ajudar mais.  Abraçar meus queridos. Me apaixonar muitas vezes. Espalhar amor, todos os dias. Ensinar e aprender. Virar poeta, para dar coerência aos sonhos, não é isso? Que a metade do copo esteja sempre cheia. Proteção, saúde e mais paciência. Que assim seja, amores. Namastê. Amém. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ao meu grande líder

Eu estava ensaiando escrever um texto sobre o dia da consciência negra, mas quando tive tempo, fiquei com preguiça. Depois mentalmente escrevi um texto falando sobre cabelos, meu cabelo crespo, meu black que hoje exibo com o maior orgulho, ainda mais quando leio preconceitos que crianças sofrem por causa do cabelo, quando são obrigadas a cortá-lo porque não se encaixa no padrão. Porém, mais uma vez, deixei passar o momento e não postei por preguiça. Preguiça do mundo, principalmente, que insiste em ignorar problemas, em traçar padrões ideais de beleza.
Ainda, semana passada assisti o filme Invictus novamente – considero o filme fraco, principalmente se comparado ao livro. Quando assisti pela primeira vez, estava com tanta informação sobre o evento narrado na cabeça, que fiquei revoltada com a falta de cuidado que a história teve ao ser transformada em filme, quantos fatos essenciais foram omitidos para ter a linguagem cinematográfica. Contei o que ainda lembrava para uns amigos, e mais uma vez pensei em escrever sobre o homem da história, o gênio, sobre a história que não dá pra sentir em somente duas horas. Novamente pensei em escrever, mas dormi.
Hoje não dá para ter preguiça. Hoje preciso de qualquer forma homenagear um dos últimos líderes do planeta. E faço isso com muita dor, porque a minha vontade é chorar em silêncio. Mas não vou.
Quando criança, me pediram para escrever uma redação sobre meu pai. Eu fui criada sem a presença do meu dele por perto - e já era complexa demais para escrever uma redação falando que amava um homem que eu mal conhecia. O meu pai aparecia em datas comemorativas lá em casa mas eu não sentia vínculo para chamá-lo de meu herói, como todos os colegas da minha classe chamam seus pais. Foi quando minha mãe me deu a ideia de buscar alguém que eu admirasse e escrevesse sobre ele, porque grandes homens conseguem ser pais de todo o mundo. Então eu busquei um negro que ainda estivesse vivo. Busquei um negro porque queria me sentir representada por alguém que amasse sua cor, e que me ensinasse a amá-la também. E foi assim que conheci o Mandela. Acabou que ele me ensinou mais, muito mais. Na época, ele tinha acabado de ser libertado,  e eu não entendia sua prisão, e fiquei tão confusa com tudo, com tanto medo. Mas senti alguma coisa na sua fala calma, no seu olhar. Senti amor. Na redação, coloquei ele como o meu pai herói.
Há meses espero a notícia da morte do Mandela, e confesso que torcia para que deixassem que ele descansasse em paz. Há meses leio notícias de que ele já havia partido, somente sendo mantido por aparelhos por questões judiciais ou por qualquer outra razão. E chorei fortemente na primeira vez que li que ele realmente já tinha partido. Eu me senti sozinha, sem um líder para me orientar. 
E hoje, com a sua morte anunciada,  a sensaçao inicial de abandono foi a mesma, de que foi embora o último grande líder do planeta. Fiquei pensando e perguntando: cadê os líderes do mundo? Cadê aqueles que lutam de forma incessante pelo amor, esse amor maior que não permite que as barreiras do ódio, do medo, do desprezo ao próximo vençam? Aqueles que pregam paz e transmitem tanta calma, tanta força, tanta luz, que falam de forma que até o homem mais arrogante e preconceituoso consegue, mesmo que por um segundo, escutar? E pensando nisso eu me senti abandonada, sem esperanças no mundo, relembrando as mensagens raivosas que li ao longo do ano, dos anos, e senti um temor profundo pelo nosso mundo que parece cada dia mais abandonado. 
Mas ai veio uma frase de Mandela na cabeça: Que o homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista por cima do medo. Eu me lembrei que ele ensina – porque nunca terá tempo passado as suas lições - que a única forma de sairmos de nossas prisões é deixando a raiva e o ódio para trás. Que não devemos ter medo de brilhar porque somos filhos do Amor. E que dessa maneira ajudamos outras pessoas a encontrarem a sua luz também. Eu tento parar pra escutar a sua voz me conformando e lembro que não tem como ser abandonada. Ele hoje faz parte do Universo de uma maneira transcendental – e continua aqui, ao meu lado, ao lado de todos os que sentem muito, mas muito a dor da sua perda física. Ele nunca vai parar de falar, ao lado de outros líderes tão excepcionais, tão humanos, tão vivos.
E ai vem um desejo em mim. Eu desejo nunca esquecer que eu posso ensinar todo o mundo a amar. Nunca perder a esperança de que é possível melhorar tudo, sabendo ser maior do que toda a energia que tenta me puxar para baixo. Eu me recuso a me igualar aos pessimistas, aos que tanto odeiam. Porque se hoje eu não reconheço nenhum líder à altura do Mandela, é certo que nasce nesse instante o Universo prepara um para o futuro e precisamos estar preparados para ouvi-lo. Enquanto isso, que eu nunca esqueça sua forma incrivelmente forte de lutar. Não é esquecer ou ser omisso– é sempre enfrentar todo o mal, mas com amor. Com muito amor.

Agora dói e muito. Mas logo só vou chorar por sentir aquela saudade boa desse homem que nunca conheci mas que foi um grande pai no meu mundo. Obrigada Madiba, por ser eterno.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Por Grandes Professores

Todo ano aparece uma campanha no facebook que todo mundo adere super feliz colocando fotos de crianças em seus perfis e ainda ressalvam que foi a melhor época de suas vidas. Eu não participo, tenho preguiça de mudar foto, verdade.  Mas adorei ver fotos de pessoinhas lindas espalhadas e me deu vontade de pegar todas no colo. Só que não concordo que a infância é a melhor época da vida. Foi especial sim, mas durou o que tinha que durar e adoro a fase adulta.  Os problemas existem em todos os anos da nossa vida. 
Eu tive uma infância feliz. Mas não foi fácil, sem preocupações e fantasiosa. Tive momentos pesadíssimos e que me marcam até hoje, e muitos provocados por crianças. Crianças mal educadas por adultos que permitiam comportamentos errados, e de certa forma incentivavam, pois muitas crianças refletem a imagem dos pais. Elas ainda não entendem as barreiras sociais e as falsas boas maneiras de se comportar, e então acabam expondo o que ouvem nas conversas da casa, ou até mesmo na rua e não são freadas pelos seus adultos. Por isso a escola é tão importante, porque crianças precisam ter contato com outras crianças e com grandes adultos.  E esse ponto me leva ao que eu queria realmente escrever: sobre o dia dos professores.
Vou ser honesta: tive poucos bons professores. E os que me marcaram foram os que me faziam pensar além do que estava em livros com histórias  contidas e das apostilas preparatórias para uma prova que não avalia conhecimento. Boa parte dos professores que tive seguiam o esquema pré-determinado pela escola e ponto. Mas os que fugiam... eles me ajudaram a ver além, eles me ajudaram a entender o amor, o próximo, o esquecido, a natureza, a vida.
Poucos, enfatizo. O que é uma pena. Ontem conversei com uma amiga sobre uma reportagem que ela assistiu sobre uma professora que ensina história com músicas da Maria Bethania. Como amaria assistir a uma aula dessa professora, como ela deve tocar os seus alunos. Exemplos assim ficam para sempre dentro da gente. E incentiva que o grande criador que existe dentro de nós não tenha medo de viver nesse mundo tão confuso. Pessoas que sabem ensinar possuem o poder de transformar toda uma sociedade de forma mais impactante do que imaginamos.
Bons professores conseguem mexer até mesmo em adultos mal encarados. Conseguem quebrar barreiras e proteger seus pupilos. Conseguem ensinar além do que foi ensinado dentro de casa, e viram pais de milhares. É um dos trabalhos mais difíceis do mundo. Por isso tão poucos realmente bons, por isso são tão temidos. Os verdadeiros professores são vistos com maus olhos, são criticados e apedrejados. Mas eles continuam porque sabem o seu valor no Universo. Eles sabem que conseguem transformar o mundo, mesmo com seus salário medíocre e sem o glamour da profissão. 
Eu adoraria uma campanha onde as pessoas colocassem fotos desses professores de alma no seu perfil, dando a força que eles precisam para permanecerem ativos. Quem sabe não incentivaria outros professores a realmente ensinar. Acredito que através da educação podemos mudar o mundo. Sejamos cada vez mais excelentes professores para que seja impossível frear essa transformação.


sábado, 31 de agosto de 2013

Bloqueando.

Estava contando uma história pra uma amiga e ela disse rindo que nunca conseguiu entender como que eu consigo me relacionar com tanto tipo de pessoas diferentes. Ela ainda falou: “- você tem amigos da extrema esquerda e da extrema direita, com relação com o Opus Dei: como que você consegue isso? Se bobear, você tem amigo racista que acha que você é exceção nos negros!” Ficamos rindo sobre o assunto, mas ela está certa: eu realmente tenho tudo quanto é tipo de conhecidos.

Eu gosto de gente. Gosto de observar seu comportamento, de aprender e ensinar, de ampliar meus horizontes.  Todo mundo tem defeitos, todo mundo faz ou fala besteira de vez em quando. Mas ainda é verdade que todo mundo tem uma qualidade, e por isso procuro trazer o que a pessoa tem de melhor. O que muitas vezes nao é possível. Aliás, quantas vezes não me peguei tentando lembrar porque eu ainda falo ou gosto com determinada pessoa, e porque ainda não mantenho qualquer forma de contato com ela. A verdade é que minha paciência está sendo muito testada ultimamente no facebook, mas eu procuro me controlar e pouco me manifestar nos perfis de terceiros. Tento só bloquear ou retirar a pessoa do meu feed na última instância. Às vezes não dá. Nem sendo Buda, Gandhi, Jesus Cristo. Imagina sendo uma simples humana sem dotes sobrenaturais.

Preciso desabafar de vez em quando também. Meus amigos mais próximos sabem que eu vou xingar e reclamar, mas tudo de boca pra fora. Eu sou daquelas que grita e esperneia e esquece no próximo segundo. Poucas vezes fico muito tempo engasgada. Hoje eu estou, mesmo depois de já ter divulgado a minha indignação pra todo mundo que está perto. Essa semana começou com a morte do estudante de Guiné - Bissaú, um episódio de violência gratuita e omissão dos presentes. Depois, mais xenofobismo manifestado por alguns médicos com o apoio de muita gente que conheço.

Sobre o primeiro episódio, só me restou chorar. Eu li e compartilhei a notícia num domingo ensolarado e voltei pra cama. Demorei pra encarar o dia. Depois, as vaias. Ainda não me conformo com a recente atitude baixa de alguns médicos que trataram seus colegas como se fossem inferiores. E me conformo menos ainda com alguns que apoiaram com argumentos esdrúxulos. Uma conhecida chegou a  falar que foi defesa de território e ainda postou um texto na sua página incentivando o desrespeito. Outra, médica – aliás, infelizmente, nenhum dos meus amigos médicos se manifestaram sobre o assunto da forma que eu esperava– escreveu que que já estava na hora de mudarem os assuntos que maus profissionais estão em todas as áreas.  Verdade. Mas quase todo dia vejo pessoas falando mal de advogados. Aliás, aberrações jurídicas e manifestações apaixonadas e erradas sobre o Direito eu leio todos os dias. Ainda assim, não defendo a “classe” nos seus contantes erros, ou qualquer outra instituição. Talvez seja verdade que os médicos são corporativistas e vão se defender sempre. Os juristas não, eles querem é brigar um com o outro mesmo. Mas essa colega médica, no lugar de divulgar que estava envergonhada com o ocorrido, ainda assim amenizou a questão e ficou toda ferida porque leu notícias uma após a outra falando mal dos amiguinhos profissionais. Cansa.

Nunca devemos ocultar ou simplesmente fingir não enxergar qualquer forma de discriminação contra o outro. Muito menos esquecer. Devemos expor para ver se é possível provocar algum sentimento de arrependimento nos autores do ato. É normal cometer uma besteira na empolgação, influenciado pela galera que grita junto, acontece. É ser momentaneamente idiota e imaturo, mas acontece. Só que depois é preciso pensar sobre seus atos e se desculpar sim. Engraçado que as pessoas não gostam de pedir desculpas por orgulho, mas pra ferir o outro não usaram freios antes de proferir palavras e comportamento baixos.

Tenho parentes médicos. Já quis ser médica. Desisti por preguiça e muitas vezes me arrependo. Só que para mim, o ser humano está acima da ideologia da minha família, dos meus amigos, da medicina. O que importa é ajudar o outro, o ser humano como um todo, e não só meu mundinho. Dói ver o descaso, a prioridade das questões pessoais em detrimento das pessoas, e fico tão esgotada porque parece que algumas coisas não tem solução, o egoísmo vai prevalecer, o egocentrismo, o consumismo e dá vontade de gritar e bater na pra ver se adianta, mas não vai. E dá vontade de desistir de acreditar. Mas se desistirmos, o que acontece com o mundo? Ele precisa de força pra sobreviver. Somos sobreviventes, eu e ele. Então melhor terminar essa semana pessimista e começar a outra com os sonhos renovados. Pra isso, pelo menos por hoje,  não vai ter como: algumas pessoas terão que ser bloqueadas. Preguiça de tentar entendê-las.