Eu estava a caminho do teatro, na Cinelândia, e quando saí do metrô, me deparei com um trio elétrico, com música cristã tocando, um palco com sei lá quem gritando e um bando de pessoas pulando e impedindo a minha passagem. Isso alterou bastante o meu humor, e tive que sair passando pelas pessoas que cantavam uma música em ritmo sertanejo em um tom altamente desafinado. (desculpem, mas música de louvor seguindo a moda não dá).
Quando cheguei no CJF, pensei que nem seria possível ouvir a peça. Fiquei esperando a minha amiga aparecer, e ela chega com a cara mais amarrada do que a minha e falando: o que é isso, micareta para Deus? Precisa disso?
Eu sou evangélica desde que nasci. Falar isso às vezes deixa os meus amigos sem saber o que dizer. Eles possuem aquela imagem antiga sobre crentes – preconceitos são difíceis de se apagar, inclusive (e talvez principalmente) entre os amigos mais intelectuais. Sem perceber, eles persistem na rixa que existe entre os cristãos. Uma coisa, ao meu ver, altamente sem sentido. Ainda mais hoje, onde muitas vezes é difícil distinguir o culto de uma missa. E mais estranho ainda, já que ambos acreditam no mesmo Deus. Tenho uma amiga que diz que ela sofre mais preconceito por ser crente do que por ser negra. Exageros à parte, não posso fingir que também não provoco constrangimento por me assumir evangélica, mesmo da minha forma torta.
Eu acredito em Deus de uma forma somente minha. Não encontrei em nenhum lugar – e já busquei em várias outras formas de rezar – respostas para as minhas perguntas. O que me faz permanecer na minha crença é que foi onde eu conheci o significado do amor incondicional. Ainda que muitos tentam destoar essa imagem, colocando temor e de certa forma, até pregando o ódio, ou a ignorância, eu deleto tais discursos (às vezes é bem complicado – como aconteceu nesse dia da “micareta”), e procuro me lembrar do que eu aprendi, e principalmente, do que eu sinto.
Para mim, a língua universal do cristianismo é o amor. Por mais cafona que essa frase pareça, acredito que é essa a linguagem que deve ser divulgada para todo o planeta. A solidariedade, a compreensão, o perdão, o companheirismo, a tolerância, o aprendizado, a alegria, tudo isso e mais é o amor em sua plenitude. Essa palavra, na sua forma não mais abstrata, e sim concreta, é o Meu Deus, em quem tanto acredito e confio. E eu tenho prova da sua existência todos os meus dias.
Além do mais, não acredito ser preciso abdicar da religião para ter essa forma de pensar. O maior problema dos não religiosos, ou dos ateus, é que muitas vezes eles são tão intolerantes quanto os que crêem de forma fanática. Manter a mente aberta é preciso para todos, assim como aceitar o Amor – seja ele uma divindade, parte da natureza, de um todo ou de um nada. Acreditar Nele nos ajuda a acreditar mais no que podemos ser, e no bem que podemos fazer para o mundo.
Realmente, para mim não é preciso uma micareta. Mas essa é a minha forma de crer. Ele está dentro de mim, e só preciso não esquecer de sempre buscá-Lo. Lembrar todos os dias de sua existência é também seguir o Seu exemplo. E é isso o que eu busco fazer, para que, quem sabe um dia, eu consiga ser completa de amor.
Ai, atravessar essa passeata/micareta/seja o que for foi o infernoo!!!
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