quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Doce (não) Dezembro.


Dezembro chegou forte, como todo dezembro. É o fim de tudo, e como não tem mais como prolongar, que acabe logo. Nao é fácil, como todo término e recomeço. Começa tentando me enganar, leve e quente e azul, mas a semana me mostra que nao é setembro, e nem maio. Claro que não dura. Vai ser Dezembro, com toda sua personalidade. Lindo. E pesado.
Ao mesmo tempo é tao bonito. Tantas luzes e enfeites. Vozes cantando, corais espalhados pela cidade e paro para ouvir. A música sempre me encanta, é como a minha alma escuta. Com musicalidade. E apesar de alguns tenores desafinados por causa do barulho da Paulista, eles sorriem e voltam para o tom e perco meu tempo admirando aqueles que sabem cantar, sonhando um dia ter esse talento e sair alegrando os outros por ai com minha voz.
Mas acaba. E as pessoas se multiplicam na rua e correm. Tudo está tão cheio, o tráfego piora e eu estou tao cansada. Como que surge tanta gente assim? Onde caberá todo mundo? Quero ficar no outro canto. Lembro que o Natal está chegando e eu amo tanto o Natal, só que esse será o primeiro que não cantaremos parabéns. Ai dói. Mas não aceito que isso ofusque o brilho do Natal. Cansa mais ainda brigar com meus sentimentos. Muitas vezes é essa mistura de beleza e dor que inensifica os resultados. Nesse Dezembro essa mistura virá com toda força. Já está aqui, dentro de mim, cada hora um lado fala mais alto e grito com os dois porque só quero ouvir cantos.
Chego tonta em casa e volto para a música. Se em Dezembro as pessoas agissem como em um musical, seria mais fácil pra mim. Mas não. Leio uma linda carta que uma grande amiga escreve para uma amiga dela e me emociono tambem com a resposta. Queria escrever para alguém tambem, mas nao tenho ninguém. Não hoje, estou sozinha. Entao escrevo para o nada, para ver se alguém pega o que jogo no ar. Ou na internet. Qualquer um. Mas não qualquer um. Não tem sentido, mas não é isso que define a melancolia? É, estou melancólica. Deve ser pelo fim do mundo. Deve ser por querer que acabe logo. Por que demora?
Decido terminar com coisas carnais que não me tocam a alma. Sozinha mesmo. Não sei viver sem intensidade, seja de alegria ou de pesar. Quando não sou intensa, é porque me anulo. Hoje não. Hoje é o dia do drama, então estou aqui. Quem sabe um dia alguém me escuta. Ou todo mundo. Ou ninguém mesmo e continuo vivendo assim, fora de sintonia. Mas canso de brigar, ao mesmo tempo que enjoa pensar em ficar do lado que todo mundo está, lá é tudo apertado e tão comum... Mais uma vez me sinto derrotada. Acabe logo. Que venha o depois.
Hoje estou assim. Culpo Dezembro, com seus altos e baixos enérgicos. Melhor dormir. Amanhã vou  escutar alguém cantar. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A vida aos 30.


Tenho conversado tanto sobre a vida com as pessoas nos últimos meses, e também sobre as surpresas desse ano na vida de alguns amigos, e com isso não paro de me analisar e tentar entender o propósito de tudo que passei.
Eu guardei em mim uma caixinha com muitos palavras negativas que ouvia quando era criança. Escondi bem no fundo, mas muitas vezes, quando eu me deparo com um problema, essa caixinha se abre e as palavras saem e martelam na minha cabeça com muita força. Feia. Suja. Burra. Macaca. É quando eu recuo e me encolho. Sem querer eu dou força a essas palavras e me sinto muito mal, somatizo, fico até doente. Mesmo depois ouvindo coisas positivas, elogios, muitas vezes eu demoro a acreditar. Acho que a pessoa está falando para tentar me agradar. Dependendo de quem fala, acho que é falsidade mesmo.
Hoje eu tenho consciência do quanto essa caixinha me afetou quando abria. Destruí-la é impossível, então tenho que saber conviver com ela e mudar a sua influência em mim. Então resolvi construir uma outra, essa sim, com coisas boas, e sei que essa vai ofuscar aquela ruim. O engraçado é o tempo que levei tomar essa atitude. Querendo me mostrar sempre forte, acabe me tornando muito fraca. Mas eu não estava preparada pra lutar por mim. Mas esse ano difícil abriu portas pra isso. 
Eu tinha a mania de escrever, e guardei uns  diários antigos. Andei relendo alguns nesses últimos dias. Lembrei que desde pequena eu não me conformava com tanta injustiça no mundo, tanta ingratidão, tanta dor. Então eu chorava, mas não queria que ninguém visse esse momento. Pro mundo eu tinha que estar ali, forte, mesmo com tanta gente querendo me dar porrada. Estranha a consciencia que eu já tinha em mim, porque eu não chorava só porque tinha problemas. Chorava pelas misérias da vida dos outros, por doenças de estranhos, por gente que morria antes do tempo, por gente que perdia casa, por existir guerra, eu soluçava e pedia pra Deus pra entender o porquê de tanto sofrimento num mundo tão bonito. Eu não entendia porque as pessoas não enxergavam o belo. Daí nasceu minha vontade de mudar o mundo.
Eu morava em um bairro que tinha um pedacinho da Mata Atlântica. Então eu pegava minha bicicleta e me enfiava naquele pedacinho de floresta, as vezes sozinha ou com algum amigo do bairro, e sempre escondida porque minha mãe e a minha vó tinham medo que alguma cobra me picasse. E no mato eu esquecia o peso do mundo real e brincava com os bichos,  inventava jogos, eu me limpava de toda aquela energia que tentava me pegar. E voltava pra casa depois. Eu sempre amei a natureza porque sempre foi nela, no seu silêncio, que consegui me recompor.
Que bom que eu era diferente. Hoje eu sei. Agradeço o aprendizado. 
Por outro lado eu sempre fui rodeada de amor. Uma força tão intensa que acabou me equilibrando pra ser uma pessoa positiva, e continuar acreditando na força dele. Minha família, mesmo pequena, sempre foi muito viva. A gente sempre canta e dança, briga, brinca e dá muita gargalhada. Por causa dessa pequena base, nunca fui  triste (a tristeza em mim sempre foi temporária) , porque ela sempre me levantava. Por causa dela, sempre acreditei no amor, mesmo quando tudo me mostrava que ele estava esquecido. E de forma intensa. Além dela, sempre tive bons amigos. Amigos de alma, de outras vidas, só pode ser, porque me completam. Eles tambem sempre me ensinaram sobre o amor. 
Uma grande amiga uma vez me falou que eu vivo num mundo de sonhos. E é verdade. Eu entrei nele muito pequenininha pra poder enfeitar minha vida quando eu estava triste e ele sempre me deixou feliz. Mas não sei se meu mundo de sonho é tão irreal assim. Pequenas coisas ultimamente tem me deixado muito satisfeita. Eu tenho andado feliz, mesmo quando eu choro de saudades. E estou vendo tantas cores em uma cidade cinza, como eu tinha parado de enxergar na cidade realmente colorida. Não sei se me tornei cega ou se estou vendo demais mesmo. Mas eu agradeço cada dia mais pela minha vida, pela vida ao redor, pelas descobertas e dificuldades que passei pra estar onde estou hoje. E eu não tenho nada que as pessoas acham que precisam ter aos 30 anos. Mas hoje eu sinto, realmente sinto, como se tivesse tudo.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em Sampa


Caminhando 5 minutos na Avenida Paulista até o metrô. Vejo:
- uma cadelinha deitada na coberta de um mendigo com mais 10 filhotinhos um em cima do outro;
 - dois garotos segurando placas, onde estava escrito: abraços de graça, abrançando todos os curiosos ao redor;
 - Michael Jackson dançando Moonwalk;
 - Um violinista tocando Bach e duas senhoras sorrindo encantadas com a música apesar de todo o barulho externo;
 - lindos quadros feitos com recortes de revistas.
 - cartazes de que o mundo vai acabar em dezembro.
 - uma fila gigantesca de pessoas loucas para ver a exposição de Caravaggio.
 - pessoas tão diferentes que parece que estou em um universo paralelo.

Às vezes é impossível não amar São Paulo. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vida que segue


É um pouco estranho sentir a vida mudando. Mas por mais que fique com um pouco de medo, não deixa de ser encantador.
Encontrei uma amiga recentemente em outra cidade e ela contou tudo o que ela planejou para que não tivesse problemas naquele final de semana. Pesquisou coisas que eu nem tinha cogitado, e ela estava orgulhosa de ter dado tudo conforme programado. Achei engraçado. Primeiro porque não sou nada organizada. Depois, porque para mim tambem deu tudo certo. Tive um belo final de semana, sem esperar nada. Só cheguei sorrindo e com a certeza de que correria tudo bem. E foi melhor.
Não dá para controlar todas as coisas, isso eu já sabia, mas ultimamente que tenho colocado em prática ficar em silêncio e esperar, quando há um tempo atrás eu falaria e muito. Estou aprendendo a deixar a vida tomar conta dos outros também. Talvez alguém próximo continue errando achando que está melhorando, continue procurando a mesma pessoa errada para amar,  só que cada um tem o seu tempo de aprender. E talvez não aprenda nessa forma de vida que conhecemos. Mas um hora acorda e segue. Como não adianta tentar controlar, porque não sabemos a hora certa para esse alguém, é melhor ficar calada do que machucar ainda mais uma pessoa que se sente tão sozinha. E torcer pra que a vida dê logo o seu jeito de mostrar.
Eu demorei mais de 3 anos para aceitar que eu estava de luto antecipado e que tinha deixado minha vida de lado. Viajar era a única maneira de me encontrar, mas na volta eu me perdia, dentro de um apartamento, e triste, numa das cidades mais lindas do mundo. Eu sabia que não estava bem, mas não estava pronta para aceitar e me renovar. Mas não estou lamentando o tempo que teoricamente perdi. Eu aprendi. Foi o tempo que eu precisava. Hoje me sinto muito bem, como eu não me sentia há muito tempo.
E agora há pouco, a confirmação da vida novamente aparecendo na minha frente: uma amiga irmã está grávida e estou achando tão curioso tudo acontecer tão de repente, porque eu não poderia imaginar isso agora. É a vida encontrando seu jeito, sem hora marcada, sem data planejada, sem certo ou errado. Ela, que mal conhecia o amor, esse ano está rodeada dele de forma plena. Eu, que perdi uma das pessoas que mais me ensinou a amar esse ano, vou ganhar um sobrinho de coração. Como não agradecer pela vida, pelas surpresas, pela força que ela nos dá? É o amor, é o seguir, é deixar acontecer. Obrigada.


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Preguiça


Eu sempre falei que o meu maior pecado é a gula. Eu não posso ver comida que fico com fome, fico encarando o prato dos outros sem a menor vergonha, e como diz a minha mãe, fome é o meu estado permanente. Eu sempre tenho que me controlar, porque senão eu comeria o tempo todo, e seria uma daquelas pessoas que entram em competição de comida para ver quem degusta mais em 1 minuto.
Acabei de descobrir que eu me enganei o tempo todo. Eu nunca neguei a minha gula e de certa forma, até me orgulho dela. Mas pecado é aquilo que a gente quer esconder, é o nosso segredo sujo. Então resolvi encarar e admitir para ver se começo a encarar o meu de frente: o meu maior pecado é a preguiça.
Quem me conhece com certeza já sabe disso antes do que eu. Mas sempre neguei. E aproveito e debocho dos mais preguiçosos do que eu, falando que eles são muito moles. Só que agora eu estou planejando uma viagem e tenho que planejar tudo e... quanto sacrifício! Eu começo a ler o guia e paro, começo a entrar nos sites de viagens e paro, começo a ver valores e dá um cansaço... e paro. Aí fui parar pra pensar, eu não entendia como que há um tempo que viajo de forma independente e nunca cansei assim... claro, sempre teve alguém que elaborou os roteiros bonitinhos pra mim. E a passagem. E eu sempre fui na onda, nunca procurei descobrir nada além.
Agora essa minha amiga de viagem preferida resolveu que não pode me acompanhar esse ano e estou completamente desamparada! Claro que estou fazendo um pouco de drama... mas como é bom ter tudo certinho e prontinho me esperando!
Eu sou filha única. Acostumei a ser mimada, apesar de bater o pé que nem sou tanto assim. Só que adoro receber tudo na mão. Quando morava no Rio, minhas amigas sempre falavam que eu era abusada. Éramos uma família meio engraçada e eu fui de cara rotulada como a filha mais nova, por ser a mais dengosa. Eu fiquei brava no começo, nem sou chorona! Minha irmã mais velha resmungava que eu sempre pedia e repetia para ela fazer chá, só pra ter alguém me dando algo quentinho sem eu ter que me movimentar. Ela realmente chora mais do que eu. Mas não tem  a minha preguiça.  Aqui em São Paulo, quando estou com muito frio, sempre reclamo pra minha amiga e ela traz algo pra mim. No sofá. Se ela não está em casa, fico com frio o máximo que eu posso aguentar, e só levanto se não tem como mesmo. E reclamo de fome também. Ela sempre vai e faz alguma coisa pra gente comer. Poderia ser só dengo mesmo, mas é preguiça de levantar e fazer. Juro que minha perna fica até mais mole.
De vez em quando eu ligo pra minha mãe e peço para ela resolver um problema pra mim. Não que não possa fazer sozinha, ou que não saiba, mas falar com os outros dá uma preguiça. Sempre reclamo que as pessoas andam demais de carro, mas lá na casa dela eu mal caminho 1 km. Peço que ela me leve. Afinal eu não dirijo. Por preguiça. 
E aqui, no blog, eu sempre falo que não gosto de postar porque escrevo mal. Mas a verdade verdadeira é que me dá preguiça de entrar. Nunca reviso os erros, não tento melhorar. Escrevo qualquer coisa e mando e isso porque ...
Eu sempre soube que não sou pró - ativa, mas agora, baseada com o que eu confessei, estou chocada com a tamanho da minha preguiça. Chega, vou deitar um pouquinho, mas só porque tá frio. Amanha eu começo a lidar com o meu pecadinho.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Pra frente

Nem sempre é fácil seguir em frente. Às vezes, quando a vida te dá uma grande rasteira, você até tenta, mas não consegue parar de cair. E fica fácil fingir durante o dia, fica fácil esquecer no meio das pessoas, mas quem consegue se enganar por tanto tempo? Eu sempre entendi que quando não conseguimos ficar sozinhos é porque não estamos satisfeitos com o nosso presente. Porque a solidão é necessária para saber se aprendemos o que o mundo tenta nos ensinar. Ela é importante para que possamos agregar todo o conhecimento disperso e para que possamos ouvir apenas a nossa voz, e não a de todas as outras bocas ao redor.

Mas quando a solidão dói demais, é preciso saber o porquê. E talvez a resposta esteja em olhar para trás. E procurar as nossas raízes. A nossa árvore da vida.
Fui em busca da minha no mês anterior. Estava com medo de que ela estivesse meio bamba. Mas quando a encontrei, vi que finquei ela tão firme que não tem como ela adoecer. Sim, estava com as folhas meio secas, mas vivas, porque ela sempre é regada. Isso porque sempre tem alguém que aparece lá, sem que eu saiba, e faz chover. Obrigada.

Mas para que os frutos venham doces, eu precisava abençoar ela também. Porque esse ano foi tão corrido que mal tive tempo de pensar nela. Já passei pelo meu inferno astral fora de época. Já me permiti chorar e chorar até não aguentar mais. Foi necessário. É fase de mudança. Mas chega. Agora é hora de colher os frutos que estão loucos para amadurecer.

Encontrando a minha árvore, consegui ser arrebatada. Sozinha, em uma praia onde eu podia jurar que estava deserta. Estendi minha canga, deitei na areia. E assim eu viajei. Quando voltei para mim, percebi que tinha um campeonato de volei ao meu lado, música tocando alto, mas eu estive no mais completo silêncio por um tempo indescritível. Na verdade, eu escutava apenas o barulho do mar. Estávamos só eu e a praia. Em paz. E completamente, inteiramente feliz. Eu não murchei.

Tudo mudou desde então. Tudo voltou a ser como deve ser. Pra frente. Graças às minhas raízes, ao meu passado tão bem construído. Graças aos anjos que vivem comigo, que além de cuidar, acreditam em mim. É o que eu mais precisava, dessa crença. Fica até fácil. Pra frente.    

terça-feira, 20 de março de 2012

Meu anjo mais velho

Minha princesa teve que partir porque ela não aguentava mais viver nessa realidade. E olha que ela tentou ao máximo. Sabia que se fosse de repente, ia me assustar demais. Então ela foi aos poucos. Esquecendo por partes, para que eu me acostumasse com a sua ausência. Tolinha, sempre pensando em mim. Esqueceu como cozinhava, esqueceu o nome das suas filhas, esqueceu seu endereço, esqueceu sua data de aniversário. Mas nunca se esqueceu de mim.

Ela me aguardou para o adeus final, como havíamos combinado anos atrás. Pedi para ela não ir sem que eu pudesse estar por perto. Então ela firme e forte, sempre tão forte, se lembrou da promessa, me aguardou e como sempre, reagiu à minha presença. Fui a última a tacar-lhe um beijo. Depois, partiu.

Como ela queria ter certeza de que eu saberia cuidar de mim, me fez cuidar dela antes. E assim eu deixei de ser sua menininha do tamanho de três palmos do chão, e ela passou a ser minha levada que batia palminha e brincava assustada. E eu aprendi direitinho.

Agora que ela não é mais minha princesa esquecida, mas sim meu anjinho mais velho, pedi para que ela aproveitasse que estaria pertinho do Pai para falar para ele nunca deixar de olhar para mim. Até parece que ela permitiria que Ele se distraísse. Agora estou com proteção elevada ao quadrado, potencializada por um milhão, e chegando perto do infinito. Que ninguém se atreva a mexer comigo agora.

E quando a saudade estiver tão grande, do tamanho de uma super explosão, ela vai vir conversar comigo nos meus sonhos e aí eu vou voltar a me lembrar que estaremos sempre por perto e não tem porque sentir tanta dor. E quando chegar a minha vez de renascer, ela vai me receber morrendo de rir, porque eu terei ficado tão velha, e ela terá rejuvenecido um tantão. Espertinha. Eu serei vovó, mas ela é que vai ter que fazer o bolinho de chuva com chá.

Obrigada, minha vida.






segunda-feira, 5 de março de 2012

Papo adulto

-       Valeu mesmo a pena você ter ido embora do Rio?

-       Penso que sim. De certa forma, a cidade estraga a gente. Lá eu estava vivendo um dia de cada vez e não pensava em mais nada a não ser aproveitar a cidade. Não dava mais para continuar assim, estava sofrendo muita pressão. Hoje, apesar de sentir falta, eu já estou bem diferente, as minhas resoluções para esse ano são bem adultas: fazer o meu negócio dar certo, em primeiro lugar, e comprar meu apartamento. Significa que estou crescendo. Você também precisa crescer.

-       Isso para você é sinônimo de crescer?

-       Claro que é.

-       Não acho. Quem foi que disse isso?

-       Todo mundo.

-       Ah, esse todo mundo que mais erra do que acerta?

-       Para de ser rebelde. Se isso não é crescer, o que é?

-       É ter paz de espírito. Trabalhar com a sua alma, como você pode se tornar uma pessoa melhor e entrar mais em sintonia com o mundo. Crescer significa evoluir espiritualmente, saber ouvir, sentir, amar. Bens materiais não fazem isso pela gente. Aumentar renda, comprar coisas, consumir cada vez mais, apenas nos deixa cada dia mais insatisfeitos, enquanto na verdade tudo é tão simples: é só saber sentir.

-       Tá bom. Eu concordo. Mas a gente precisa de dinheiro.

-       Droga.

-       E para ter dinheiro, a gente vai ter que trabalhar. E isso significa afastar um pouco do Rio, já que lá nós duas estávamos fora de foco. Você também, para fazer tudo o que você gosta, viajar, rodar o mundo, aprender. Nós não vamos poder fazer isso sem dinheiro.

-       E por que você quer comprar um apartamento em Campos?

-       Ué, porque eu preciso ter um lugar pra morar, não dá para viver de aluguel pra sempre.

-       Mas por que não no Rio? A gente não saiu para depois voltar melhor?

-       Porque lá é mais caro.

-       Então por que você não fica juntando dinheiro e daqui há dez anos, quando baixar a euforia pela cidade, pós Copa e Olimpíadas, nós compramos um lugar pra gente ser voltar a ser vizinhas?

-       Não pensei nisso.

-       A ideia de morar perto dos amigos é realmente legal, mesmo que demore um pouco pra acontecer. Pense bem. Se alguma de nós casar, é bem possível que o marido morra antes. E aí a gente não vai querer casar de novo, seremos velhinhas pegadoras. E teremos amigos a nossa volta para nunca ficarmos sozinhas. O que mais permanece na vida mesmo é a amizade...

-       Seremos velhinhas periguetes?

-       E por que não? Aí sim eu vou gostar de homens mais novos!

-       E mesmo que a gente case para sempre, nossos maridos virarão amigos e vai aumentar nossa família sempre?

-       Claro, agregar é crescimento. Isso sim, e não viver apenas em um núcleo teoricamente seguro.

-       É uma boa ideia.

-       Claro que é.

-       Mas a gente precisa de dinheiro.

-       Droga.

-       Calma, vai passar rápido. Vai ser  melhor do que você imagina.

-       Eu sei que será, sinto isso. Mas o que me deixa pensativa é saber se depois de tanta luta, eu vou conseguir ser feliz com a minha profissão.

-       Claro que será. No fundo, você sempre gostou de ajudar as pessoas, não é?

-       Sim, com certeza. Mas e se eu passar pra outra coisa mais burocrática? Será que vou me vender pelo dinheiro?

-       Claro que não. Você está muito velha pra mudar, você sempre diz isso.

-       É. Espero. E você tem que começar a ver como você vai conseguir voltar pro Rio.
-       Eu sei. Mas pra isso, eu preciso de dinheiro.
-       Droga.






  

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Partidas e chegadas


Vou sentir muita falta da cidade incrivelmente maravilhosa.
Cheguei achando que seria tudo um conto de fadas, mas não foi. O que aconteceu foi a vida como tem que ser. Aprendi a aceitar mais as diferenças, a ser mais compreensiva, a não enxergar tão preto ou tão branco. Conheci cores e me joguei no calor, na praia, no samba, no carnaval. Aprendi Direito e direito, política e politicagem, religião e religiosidade. Aprofundei no cinema, na arte, no teatro e na cerveja. Conheci cariocas e cariocas. A falsidade e a amizade. Passei a ver beleza no concreto grande e esquisito, no quarto pequeno que servia também de cozinha, no morro e no asfalto. E nunca enjoei da paisagem, da natureza da cidade que não para de se movimentar e de se enfeitar todos os dias.
Vou sentir falta do que eu não fiz. Eu não saltei de asa delta. Não escalei a Pedra da Gávea até o topo. Não participei de uma maratona e não fiz natação no mar. Não participei de festas na praia. Não fui na Portela. Não comi peixe na Pedra de Guaratiba. Não fui dançar no Viaduto de Madureira. Não me apaixonei por nenhum carioca. Mas no fundo é até bom – sobra um monte de coisas pra fazer quando eu voltar. Porque eu vou voltar.
Agora o que vai doer  mesmo é a saudade que vou sentir das pessoas.
Pessoas que se parecem tanto comigo, que quando falam, penso que sou eu. Das pessoas que eu nem sempre sei porque que gosto tanto delas, mas que sempre dão um jeito de me lembrar que não precisa ter explicação: eu gosto demais da conta e pronto. Pessoas que eu nunca teria me aproximado se tivesse ficado na outra cidade, por implicância ou por serem tão diferentes.  Pessoas que entenderam quão grande é a minha timidez. Pessoas que me ensinaram a perdoar e a seguir em frente. Pessoas que me ajudaram quando eu estava para baixo, que me fizeram chorar de tanto rir, mesmo contando desastres. Que almoçavam comigo um PF de 3,99. Que me ensinavam a matéria inteira segundos antes de uma prova. Que me fizeram dançar até o chão. Das que me ajudaram a fugir do calor. Daquelas que me levaram para os sambas, para o Maracanã, para apreciar comidinhas diversas, para assistir filmes diferentes, para tomar cerveja no bar da esquina, para conhecer novos lugares, para fugir da cidade, para ter momentos Sex and the City, para dormir na praia, enfim, tanta, mas tanta vida.  
Eu sou hoje muito mais do que era 9 anos atrás. Muito mais completa. Muito mais segura. E principalmente, muito mais aberta para o mundo. E hoje eu acredito mais nele, talvez por ter realmente aprendido a viver. Graças à cidade, para onde pretendo um dia voltar a morar, mas principalmente por causa dessas pessoas, que mal consigo descrevê-las – porque elas são as pessoas que pertencem à minha alma.  

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Curando a raiva

Nas últimas semanas, em vários momentos, eu não me reconheci. Estava com uma raiva dentro de mim de forma que eu nunca antes havia sentido. Ela estava me incomodando tanto, e isso só a fazia crescer. Engraçado como é fácil fazer a raiva ganhar força.
O pior era não saber o motivo. Claro que cada dia eu dava um, o facebook, algumas discussões idiotas, os problemas do mundo, mesmo os mais banais, ou coisas que não são da minha conta. Eu sempre fico revoltada com alguma coisa, mas logo passa. Mas não era só uma coisa. E não passava.
Mas cheguei no meu limite, após mais uma noite de insônia. Levantei furiosa e sem saber o que fazer. Quando eu estou cansada da cidade, fujo pro mato; cansada de alguns papos, procuro pessoas que falem diferente. Quando estou muito entediada, procuro viajar. Mas e com tanta raiva? Não sabia o que fazer, nunca passei por isso antes.
Então resolvi caminhar. Sozinha. No silencio. Com o aparelho de celular no silencioso, sem livro, sem música. E sem lugar de chegada.
E foi aí que eu voltei a ouvir.
O mundo anda tanto agitado, que esquecemos de ouvir. Ignoramos sinais, cutucões, pressentimentos. Ficamos ansiosos e procuramos soluções rápidas. Fingimos que está tudo bem que até nos enganamos. Por isso, de vez em quando, precisamos parar e realmente meditar sobre o nosso comportamento.
Não importa os motivos que me deixaram com tanta raiva. É preciso explodir ocasionalmente, e poder gritar pra que não fique machucando aos poucos. Porque cansa ter que aceitar tudo porque o mundo diz que tem que ser assim. Cansa ver tanta coisa fora do nosso alcance, cansa lidar com as injustiças, cansa discursos politicamente corretos que são igualmente errados.
Só que tem que passar. E para mim, pra tudo passar, foi só voltar para o básico, procurando o silêncio. Eu nunca entendi as pessoas que precisam sempre estar rodeadas de gente, que tem medo de ficar sozinhas. Eu não. Sou meio bicho de mato nesse ponto – preciso de solidão para poder ouvir o meu eu, dentro de mim, que sabe de tanta coisa. Foi só fazer isso que toda a raiva, de repente, passou.