Dezembro chegou forte, como todo dezembro. É o fim de tudo,
e como não tem mais como prolongar, que acabe logo. Nao é fácil, como todo
término e recomeço. Começa tentando me enganar, leve e quente e azul, mas a semana me
mostra que nao é setembro, e nem maio. Claro que não dura. Vai ser Dezembro, com toda sua
personalidade. Lindo. E pesado.
Ao mesmo tempo é tao bonito. Tantas luzes e enfeites. Vozes
cantando, corais espalhados pela cidade e paro para ouvir. A música sempre me
encanta, é como a minha alma escuta. Com musicalidade. E apesar de alguns
tenores desafinados por causa do barulho da Paulista, eles sorriem e voltam
para o tom e perco meu tempo admirando aqueles que sabem cantar, sonhando um
dia ter esse talento e sair alegrando os outros por ai com minha voz.
Mas acaba. E as pessoas se multiplicam na rua e correm. Tudo
está tão cheio, o tráfego piora e eu estou tao cansada. Como que surge tanta
gente assim? Onde caberá todo mundo? Quero ficar no outro canto. Lembro que o
Natal está chegando e eu amo tanto o Natal, só que esse será o primeiro que não
cantaremos parabéns. Ai dói. Mas não aceito que isso ofusque o brilho do Natal.
Cansa mais ainda brigar com meus sentimentos. Muitas vezes é essa mistura de
beleza e dor que inensifica os resultados. Nesse Dezembro essa mistura virá com
toda força. Já está aqui, dentro de mim, cada hora um lado fala mais alto e
grito com os dois porque só quero ouvir cantos.
Chego tonta em casa e volto para a música. Se em Dezembro as
pessoas agissem como em um musical, seria mais fácil pra mim. Mas não. Leio uma
linda carta que uma grande amiga escreve para uma amiga dela e me emociono
tambem com a resposta. Queria escrever para alguém tambem, mas nao tenho
ninguém. Não hoje, estou sozinha. Entao escrevo para o nada, para ver se alguém
pega o que jogo no ar. Ou na internet. Qualquer um. Mas não qualquer um. Não
tem sentido, mas não é isso que define a melancolia? É, estou melancólica. Deve ser
pelo fim do mundo. Deve ser por querer que acabe logo. Por que demora?
Decido terminar com coisas carnais que não me tocam a alma.
Sozinha mesmo. Não sei viver sem intensidade, seja de alegria ou de pesar.
Quando não sou intensa, é porque me anulo. Hoje não. Hoje é o dia do drama, então estou aqui.
Quem sabe um dia alguém me escuta. Ou todo mundo. Ou ninguém mesmo e continuo
vivendo assim, fora de sintonia. Mas canso de
brigar, ao mesmo tempo que enjoa pensar em ficar do lado que todo mundo está, lá é tudo apertado e tão comum... Mais
uma vez me sinto derrotada. Acabe logo. Que venha o depois.
Hoje estou assim. Culpo Dezembro, com seus altos e baixos enérgicos.
Melhor dormir. Amanhã vou escutar alguém cantar.
Foi tão rápida a última vez que te vi, como é rápido sempre e assim tem sido o tempo... Faz pouco tempo que você se mudou pra São Paulo e já se foi quase um ano... E você disse que queria saber cantar, mas de uma coisa eu me lembro: Você canta. E muito bem. Lembro da única vez em que cheguei cantando em casa, quando ainda morávamos, juntas, por pensar que a casa estava vazia. De repente escutei sua voz: "Até que enfim, alguém, que não eu, cantando em casa!" Fiquei com vergonha. Eu gostava de te ver cantando, como gostei de chegar um dia e te encontrar no meio da sala meditando. E eu tinha sensação de barquinho, você pensou que fosse o espumante que bebi, mas era barquinho mesmo, de mar. Eu gosto de te ouvir cantar, mesmo que sejam essas palavras melancólicas, mesmo que seja à distância. O mundo já acabou e ninguém percebeu. O mundo acabou e recomeça sempre. O que a Susan Miller diria sobre isso? Nós somos maiores que os astros. Quero saber das suas novidades, embora já tenha entendido metade aqui. O tempo tem devastado tudo, mas se eu pudesse recolher pedaços e montar tudo de novo, te colocava de novo morando na mesma casa. Sinto falta da convivência cotidiana. Estamos sós e seguimos sós, mas você não sabe como faz falta. Me passa depois seu endereço, pra eu mandar um cartão de Natal.
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