quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Doce (não) Dezembro.


Dezembro chegou forte, como todo dezembro. É o fim de tudo, e como não tem mais como prolongar, que acabe logo. Nao é fácil, como todo término e recomeço. Começa tentando me enganar, leve e quente e azul, mas a semana me mostra que nao é setembro, e nem maio. Claro que não dura. Vai ser Dezembro, com toda sua personalidade. Lindo. E pesado.
Ao mesmo tempo é tao bonito. Tantas luzes e enfeites. Vozes cantando, corais espalhados pela cidade e paro para ouvir. A música sempre me encanta, é como a minha alma escuta. Com musicalidade. E apesar de alguns tenores desafinados por causa do barulho da Paulista, eles sorriem e voltam para o tom e perco meu tempo admirando aqueles que sabem cantar, sonhando um dia ter esse talento e sair alegrando os outros por ai com minha voz.
Mas acaba. E as pessoas se multiplicam na rua e correm. Tudo está tão cheio, o tráfego piora e eu estou tao cansada. Como que surge tanta gente assim? Onde caberá todo mundo? Quero ficar no outro canto. Lembro que o Natal está chegando e eu amo tanto o Natal, só que esse será o primeiro que não cantaremos parabéns. Ai dói. Mas não aceito que isso ofusque o brilho do Natal. Cansa mais ainda brigar com meus sentimentos. Muitas vezes é essa mistura de beleza e dor que inensifica os resultados. Nesse Dezembro essa mistura virá com toda força. Já está aqui, dentro de mim, cada hora um lado fala mais alto e grito com os dois porque só quero ouvir cantos.
Chego tonta em casa e volto para a música. Se em Dezembro as pessoas agissem como em um musical, seria mais fácil pra mim. Mas não. Leio uma linda carta que uma grande amiga escreve para uma amiga dela e me emociono tambem com a resposta. Queria escrever para alguém tambem, mas nao tenho ninguém. Não hoje, estou sozinha. Entao escrevo para o nada, para ver se alguém pega o que jogo no ar. Ou na internet. Qualquer um. Mas não qualquer um. Não tem sentido, mas não é isso que define a melancolia? É, estou melancólica. Deve ser pelo fim do mundo. Deve ser por querer que acabe logo. Por que demora?
Decido terminar com coisas carnais que não me tocam a alma. Sozinha mesmo. Não sei viver sem intensidade, seja de alegria ou de pesar. Quando não sou intensa, é porque me anulo. Hoje não. Hoje é o dia do drama, então estou aqui. Quem sabe um dia alguém me escuta. Ou todo mundo. Ou ninguém mesmo e continuo vivendo assim, fora de sintonia. Mas canso de brigar, ao mesmo tempo que enjoa pensar em ficar do lado que todo mundo está, lá é tudo apertado e tão comum... Mais uma vez me sinto derrotada. Acabe logo. Que venha o depois.
Hoje estou assim. Culpo Dezembro, com seus altos e baixos enérgicos. Melhor dormir. Amanhã vou  escutar alguém cantar. 

Um comentário:

  1. Foi tão rápida a última vez que te vi, como é rápido sempre e assim tem sido o tempo... Faz pouco tempo que você se mudou pra São Paulo e já se foi quase um ano... E você disse que queria saber cantar, mas de uma coisa eu me lembro: Você canta. E muito bem. Lembro da única vez em que cheguei cantando em casa, quando ainda morávamos, juntas, por pensar que a casa estava vazia. De repente escutei sua voz: "Até que enfim, alguém, que não eu, cantando em casa!" Fiquei com vergonha. Eu gostava de te ver cantando, como gostei de chegar um dia e te encontrar no meio da sala meditando. E eu tinha sensação de barquinho, você pensou que fosse o espumante que bebi, mas era barquinho mesmo, de mar. Eu gosto de te ouvir cantar, mesmo que sejam essas palavras melancólicas, mesmo que seja à distância. O mundo já acabou e ninguém percebeu. O mundo acabou e recomeça sempre. O que a Susan Miller diria sobre isso? Nós somos maiores que os astros. Quero saber das suas novidades, embora já tenha entendido metade aqui. O tempo tem devastado tudo, mas se eu pudesse recolher pedaços e montar tudo de novo, te colocava de novo morando na mesma casa. Sinto falta da convivência cotidiana. Estamos sós e seguimos sós, mas você não sabe como faz falta. Me passa depois seu endereço, pra eu mandar um cartão de Natal.

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