sábado, 13 de abril de 2013

Camila:


Quando eu te conheci, era Copa do Mundo de 1990. Lembro bem desse dia porque recontamos várias vezes. Eu me lembro de esperar o final de semana ansiosamente porque você ia chegar no meu bairro e logo já estava gritando na casa da sua avó para você ir pra rua.  Brincavamos até bem tarde de pique, bicicleta, queimada, comidinha, e aí você dormia lá em casa e brincávamos ainda mais, de teatro, filmes, dona onça, de cantar. Quando a gente ia dormir ríamos tanto contando histórias de medo e de amor que passavámos a madrugada inteira assim. Éramos tão grudadas que brincávamos dormindo. Lembro da minha mãe contando de brincadeiras de adoleta sonâmbulas e sempre recheadas com risadas.
Mas tivemos que crescer. Você foi na minha frente. De corpo e de coração. Eu estava perto quando você deu seu primeiro beijo e depois conversamos a noite inteira. Eu estava perto quando você se apaixonou. Só que eu tinha muito medo de abandonar aquela vida segura de histórias e sonhos, e você apesar de aparentar ser mais medrosa, não teve. Fomos estudar na mesma escola depois, uma escola que você adorava e que me fez muito mal e muito bem, não sei ao certo. Você era mais popular e lá andávamos com turmas separadas, você ficava no pátio e eu sempre preferia continuar na sala de aula, sempre receosa porque quando eu circulava sozinha eu sempre ouvia maldades. Mas quando saíamos da escola a conexão voltava e ríamos do motorista, do filho do motorista, até que fomos morar no mesmo prédio e voltávamos juntas pra casa, esperando algum paquera passar para descobrir onde ele morava.
Você também estava por perto quando eu me apaixonei. Mas eu tinha muito medo. Então eu preferia sofrer ouvindo músicas melosas e imaginar que o atual amor da minha vida ia também se apaixonar por mim. Já você não tinha medo da rejeição. Assim de certa forma eu fui me enclausurando no decorrer da minha adolescência e você foi encarar o mundo. Foi quando realmente começamos a nos afastar.
Até que de repente precisávamos de familiaridade, e nesses momentos não tinhamos dúvida sobre quem procurar. Sempre era fácil expressar uma com a outra, com palavras, com cartas ou apenas com olhares. E você foi a minha melhor amiga por muitos anos, até que na mesma época, tivemos que mudar de cidade.
Eu sabia que perderíamos contato porque você sempre foi desligada. E isso aconteceu, mas o mundo reúne pessoas parecidas. E quando nos reencontramos, parecia que nem tinha tanto tempo. E estávamos muito parecidas. Você fez a faculdade que eu devia ter feito, e luta pelo o que acredita. Eu continuo muitas vezes procurando o silêncio e fiz uma faculdade mais cômoda. Mas nossos ideais são semelhantes e por isso o mundo nos colocou juntas novamente, porque ele precisa fazer isso para encontrar o equilíbrio. Mas mesmo com a distância física, continuamos irmãs. Passamos por histórias parecidas. Temos crises de inseguranças e vontade de mudar o mundo. É como se nada tivesse mudado. Sempre irmãs.
Hoje pra falar que lembrei do seu aniversário sem facebook, achei que uma carta seria a melhor forma de te dar parabéns, como fazíamos na nossa infância, no lugar de um torpedo ou de uma mensagem pequena que não saberia expressar o quanto você é especial na minha vida. E preciso te falar que você continua linda. Ainda mais linda, se possível. E só de pensar em você, eu fico sempre muito feliz. Como ficava quando você chegava no meu bairro doida para brincar.         

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vibe abril


Março acabou. Com todo o peso de março. Mais uma vez, tenso, quase insuportável. Senti seu peso logo no início. Permaneci com uma sensação nebulosa até o final. Quando achava que não aguentaria, sonhava com abril. Pensava: suporte: vai acabar em poucos dias! E cada dia uma nova notícia triste, um novo choro. Mas acaba! O mês acaba!

E chegou abril. Com uma lua gigantesca que surgiu no nada, afastando as nuvens carregadas. Uma lua gigantesca em São Paulo? Claro que é sinal de renovação! E só se foram 4 dias e parece que tudo está mais verde. Vale a pena acreditar na vida. 

Talvez seja verdade que todos nós que acreditamos num mundo melhor tenhamos crises constantes de melancolia. Talvez às vezes fique pesado demais tanta dor. Só entende quem tem essa sina de acreditar no Amor. Alguns não entendem minhas palavras e meu pesar por não ser da minha conta, por não me afetar diretamente. Mas afeta. Nem ligo, não preciso argumentar. Porque há muitos como eu espalhados por ai. E eu os amo mesmo sem conhecê-los. E quando os conheço amo ainda mais.

Vibe abril para todos. Tão bom ser parte de um todo que realmente vale a pena. Tão bom conseguir sobreviver. Sempre!