terça-feira, 22 de março de 2011

Em um dia desses...

Em dias como o de hoje, em que eu me sinto excessivamente fraca, fico imaginando que só um abraço excessivamente forte poderia me confortar. Um abraço silencioso, que durasse até durante o sonho e que permanecesse quando eu acordasse.

Talvez algumas palavras funcionassem, mas elas não poderiam ser vazias. Elas teriam que me fazer sorrir, mesmo sem a intenção. Ficaria cansada de ouvir o mesmo discurso de reflexão. Mas o sorriso honesto me faria sentir que tudo realmente vai passar e ficar bem, mesmo que essa sensação durasse apenas alguns segundos.

Nesses dias em que me sinto completamente cansada, com dores físicas sem razão realmente física, para acompanhar o abraço e o silencio e as palavras corretas, nada como um filme antigo com uma bela canção. Porque filmes antigos conseguem, sei lá o motivo, me deixar tão leve. E a canção me faz entrar no mundo dessas mocinhas elegantes, tão lindas e perdidas, já que em dias vermelhos elas tomam café da manhã em frente a uma joalheria e se sentem melhor.

Só isso.

E lá fora continua chovendo, e acredito que só possa ser com o propósito de levar tudo embora e de fazer florescer de novo.        

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sapato velho

Parece que eu pedi tanto para que nesse ano as coisas mudassem na minha vida que agora está tudo realmente mudando. Só que a iniciativa não foi minha. Eu sempre fui a primeira pessoa a partir para uma nova cidade, a primeira a fugir da minha confortável rotina. Mas desde que eu vim para o Rio, nunca mais saí. E agora sinto como é ruim ser a pessoa que fica. É tão bom sentir saudades quando eu estou longe, porque de certa forma eu logo me recupero, encantada com as novas descobertas.  Mas é muito difícil encarar todo o vazio do ficar, pois ele parece ser tão grande que acabo ficando com medo de me acomodar.

 E agora tudo parece novo mesmo sendo o mesmo sapato velho. Houve sim uma mudança, mas de portas fechadas, e agora tenho que entender que não é porque permaneço que fiquei para trás. Recomeçar dentro da rotina também pode ser bem interessante e diferente. Só preciso saber atrair as novidades para dentro do  contínuo cotidiano.      

segunda-feira, 7 de março de 2011

Amigos Gêmeos

Em cada lugar onde moro, sempre busco encontrar um amigo gêmeo. Aquele amigo que parece ser a continuação do seu corpo. Não necessariamente ele é igual a você. Nem deve ser, pois não procuro espelhos. Procuro aquele que me completa, que consegue ser o que eu tento ser ou que talvez já tenha sido. Amigo que seja materialização da palavra, acima de sentimentos carnais. Não é fácil encontrar.


Quando me decepciono com algum amigo que esperava que fosse assim, acabo achando que tudo não passa de mais uma idealização minha. Que não é possível se sentir tão a vontade com alguém. Ser eu mesma, com todos os meus defeitos, mostrando minhas esquisitices e crises e ainda assim, mesmo tão entregue a essa amizade, eu possa me sentir em paz. Sem medo de assustar e principalmente, sem medo de me arrepender de ter sido completamente transparente. Esse amigo sabe o que é duradouro e o que não é. E ri das minhas loucuras e as incentiva, porque elas não deixam de ser uma parte momentânea de mim.

É fácil ter amigos. Tenho em todos os lugares onde passei. Não é fácil ter amigos verdadeiros. Mas os de alma são ainda mais escassos. Porque muitas vezes você ama e confia num amigo e acredita que ele possa ser outra versão sua. Mas depois de algum tempo de distancia, o reencontro não passa de uma desilusão. Onde estava aquela familiaridade tão caseira de anos atrás? Acabou indo embora, o que não significa que seja ruim. Algumas pessoas passam pela a sua vida apenas para deixar um sentimento bom. Fazem parte de você também, mas não de forma tão intensa. Fazem parte da sua história. E na despedida, você consegue sentir o carinho e deseja eternamente o melhor para aquele que também te quer bem. Mas sabe que acabou o que era antes. Virou passado.

Mas com os amigos gêmeos a fraternidade passa os limites do lógico. E depois de anos sem estar em São Paulo, no ônibus que me levava ao encontro desses amigos, senti uma tranqüilidade absoluta provocada apenas pela memória dos bons momentos. Estava ansiosa, mas ao mesmo tempo preocupada com o que a longa ausência poderia ter feito com a gente. Medo de que fosse mais uma página virada, apenas uns dias de recordação e vida que segue. Mas felizmente, foi muito mais do que isso. 

E com apenas um olhar, toda a distância provocada pelos anos sem convivência magicamente desapareceu. E senti-me confortada como há tempos não sentia. Naquele momento eu soube: é verdade o que dizem. Algumas pessoas realmente existem. Algumas irmandades são eternas.