Estava contando uma história pra uma amiga e ela disse rindo
que nunca conseguiu entender como que eu consigo me relacionar com tanto tipo
de pessoas diferentes. Ela ainda falou: “- você tem amigos da extrema esquerda
e da extrema direita, com relação com o Opus Dei: como que você consegue isso?
Se bobear, você tem amigo racista que acha que você é exceção nos negros!”
Ficamos rindo sobre o assunto, mas ela está certa: eu realmente tenho tudo
quanto é tipo de conhecidos.
Eu gosto de gente. Gosto de observar seu comportamento, de
aprender e ensinar, de ampliar meus horizontes. Todo mundo tem defeitos, todo mundo faz ou
fala besteira de vez em quando. Mas ainda é verdade que todo mundo tem uma
qualidade, e por isso procuro trazer o que a pessoa tem de melhor. O que muitas
vezes nao é possível. Aliás, quantas vezes não me peguei tentando lembrar
porque eu ainda falo ou gosto com determinada pessoa, e porque ainda não
mantenho qualquer forma de contato com ela. A verdade é que minha paciência
está sendo muito testada ultimamente no facebook, mas eu procuro me controlar e
pouco me manifestar nos perfis de terceiros. Tento só bloquear ou retirar a
pessoa do meu feed na última instância. Às vezes não dá. Nem sendo Buda, Gandhi,
Jesus Cristo. Imagina sendo uma simples humana sem dotes sobrenaturais.
Preciso desabafar de vez em quando também. Meus amigos mais
próximos sabem que eu vou xingar e reclamar, mas tudo de boca pra fora. Eu sou
daquelas que grita e esperneia e esquece no próximo segundo. Poucas vezes fico
muito tempo engasgada. Hoje eu estou, mesmo depois de já ter divulgado a minha
indignação pra todo mundo que está perto. Essa semana começou com a morte do
estudante de Guiné - Bissaú, um episódio de violência gratuita e omissão dos
presentes. Depois, mais xenofobismo manifestado por alguns médicos com o apoio
de muita gente que conheço.
Sobre o primeiro episódio, só me restou chorar. Eu li e
compartilhei a notícia num domingo ensolarado e voltei pra cama. Demorei pra
encarar o dia. Depois, as vaias. Ainda não me conformo com a recente atitude
baixa de alguns médicos que trataram seus colegas como se fossem inferiores. E
me conformo menos ainda com alguns que apoiaram com argumentos esdrúxulos. Uma
conhecida chegou a falar que foi defesa
de território e ainda postou um texto na sua página incentivando
o desrespeito. Outra, médica – aliás, infelizmente, nenhum dos meus amigos
médicos se manifestaram sobre o assunto da forma que eu esperava– escreveu que
que já estava na hora de mudarem os assuntos que maus profissionais estão em
todas as áreas. Verdade. Mas quase todo
dia vejo pessoas falando mal de advogados. Aliás, aberrações jurídicas e
manifestações apaixonadas e erradas sobre o Direito eu leio todos os dias.
Ainda assim, não defendo a “classe” nos seus contantes erros, ou qualquer outra
instituição. Talvez seja verdade que os médicos são corporativistas e vão se
defender sempre. Os juristas não, eles querem é brigar um com o outro mesmo. Mas
essa colega médica, no lugar de divulgar que estava envergonhada com o ocorrido,
ainda assim amenizou a questão e ficou toda ferida porque leu notícias uma após
a outra falando mal dos amiguinhos profissionais. Cansa.
Nunca devemos ocultar ou simplesmente fingir não enxergar
qualquer forma de discriminação contra o outro. Muito menos esquecer. Devemos
expor para ver se é possível provocar algum sentimento de arrependimento nos
autores do ato. É normal cometer uma besteira na empolgação, influenciado pela
galera que grita junto, acontece. É ser momentaneamente idiota e imaturo, mas
acontece. Só que depois é preciso pensar sobre seus atos e se desculpar sim.
Engraçado que as pessoas não gostam de pedir desculpas por orgulho, mas pra
ferir o outro não usaram freios antes de proferir palavras e comportamento baixos.
Tenho parentes médicos. Já quis ser médica. Desisti por
preguiça e muitas vezes me arrependo. Só que para mim, o ser humano está acima da
ideologia da minha família, dos meus amigos, da medicina. O que importa é ajudar o outro, o ser humano como um
todo, e não só meu mundinho. Dói ver o descaso, a prioridade das questões
pessoais em detrimento das pessoas, e fico tão esgotada porque parece que
algumas coisas não tem solução, o egoísmo vai prevalecer, o egocentrismo, o
consumismo e dá vontade de gritar e bater na pra ver se adianta, mas não vai. E
dá vontade de desistir de acreditar. Mas se desistirmos, o que acontece com o
mundo? Ele precisa de força pra sobreviver. Somos sobreviventes, eu e ele.
Então melhor terminar essa semana pessimista e começar a outra com os sonhos
renovados. Pra isso, pelo menos por hoje, não vai ter como: algumas pessoas terão que ser bloqueadas. Preguiça de tentar entendê-las.