sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A vida aos 30.


Tenho conversado tanto sobre a vida com as pessoas nos últimos meses, e também sobre as surpresas desse ano na vida de alguns amigos, e com isso não paro de me analisar e tentar entender o propósito de tudo que passei.
Eu guardei em mim uma caixinha com muitos palavras negativas que ouvia quando era criança. Escondi bem no fundo, mas muitas vezes, quando eu me deparo com um problema, essa caixinha se abre e as palavras saem e martelam na minha cabeça com muita força. Feia. Suja. Burra. Macaca. É quando eu recuo e me encolho. Sem querer eu dou força a essas palavras e me sinto muito mal, somatizo, fico até doente. Mesmo depois ouvindo coisas positivas, elogios, muitas vezes eu demoro a acreditar. Acho que a pessoa está falando para tentar me agradar. Dependendo de quem fala, acho que é falsidade mesmo.
Hoje eu tenho consciência do quanto essa caixinha me afetou quando abria. Destruí-la é impossível, então tenho que saber conviver com ela e mudar a sua influência em mim. Então resolvi construir uma outra, essa sim, com coisas boas, e sei que essa vai ofuscar aquela ruim. O engraçado é o tempo que levei tomar essa atitude. Querendo me mostrar sempre forte, acabe me tornando muito fraca. Mas eu não estava preparada pra lutar por mim. Mas esse ano difícil abriu portas pra isso. 
Eu tinha a mania de escrever, e guardei uns  diários antigos. Andei relendo alguns nesses últimos dias. Lembrei que desde pequena eu não me conformava com tanta injustiça no mundo, tanta ingratidão, tanta dor. Então eu chorava, mas não queria que ninguém visse esse momento. Pro mundo eu tinha que estar ali, forte, mesmo com tanta gente querendo me dar porrada. Estranha a consciencia que eu já tinha em mim, porque eu não chorava só porque tinha problemas. Chorava pelas misérias da vida dos outros, por doenças de estranhos, por gente que morria antes do tempo, por gente que perdia casa, por existir guerra, eu soluçava e pedia pra Deus pra entender o porquê de tanto sofrimento num mundo tão bonito. Eu não entendia porque as pessoas não enxergavam o belo. Daí nasceu minha vontade de mudar o mundo.
Eu morava em um bairro que tinha um pedacinho da Mata Atlântica. Então eu pegava minha bicicleta e me enfiava naquele pedacinho de floresta, as vezes sozinha ou com algum amigo do bairro, e sempre escondida porque minha mãe e a minha vó tinham medo que alguma cobra me picasse. E no mato eu esquecia o peso do mundo real e brincava com os bichos,  inventava jogos, eu me limpava de toda aquela energia que tentava me pegar. E voltava pra casa depois. Eu sempre amei a natureza porque sempre foi nela, no seu silêncio, que consegui me recompor.
Que bom que eu era diferente. Hoje eu sei. Agradeço o aprendizado. 
Por outro lado eu sempre fui rodeada de amor. Uma força tão intensa que acabou me equilibrando pra ser uma pessoa positiva, e continuar acreditando na força dele. Minha família, mesmo pequena, sempre foi muito viva. A gente sempre canta e dança, briga, brinca e dá muita gargalhada. Por causa dessa pequena base, nunca fui  triste (a tristeza em mim sempre foi temporária) , porque ela sempre me levantava. Por causa dela, sempre acreditei no amor, mesmo quando tudo me mostrava que ele estava esquecido. E de forma intensa. Além dela, sempre tive bons amigos. Amigos de alma, de outras vidas, só pode ser, porque me completam. Eles tambem sempre me ensinaram sobre o amor. 
Uma grande amiga uma vez me falou que eu vivo num mundo de sonhos. E é verdade. Eu entrei nele muito pequenininha pra poder enfeitar minha vida quando eu estava triste e ele sempre me deixou feliz. Mas não sei se meu mundo de sonho é tão irreal assim. Pequenas coisas ultimamente tem me deixado muito satisfeita. Eu tenho andado feliz, mesmo quando eu choro de saudades. E estou vendo tantas cores em uma cidade cinza, como eu tinha parado de enxergar na cidade realmente colorida. Não sei se me tornei cega ou se estou vendo demais mesmo. Mas eu agradeço cada dia mais pela minha vida, pela vida ao redor, pelas descobertas e dificuldades que passei pra estar onde estou hoje. E eu não tenho nada que as pessoas acham que precisam ter aos 30 anos. Mas hoje eu sinto, realmente sinto, como se tivesse tudo.