Tenho conversado tanto sobre a vida com as pessoas nos
últimos meses, e também sobre as surpresas desse ano na vida de alguns amigos, e
com isso não paro de me analisar e tentar entender o propósito de tudo que
passei.
Eu guardei em mim uma caixinha com muitos palavras negativas
que ouvia quando era criança. Escondi bem no fundo, mas muitas vezes, quando eu
me deparo com um problema, essa caixinha se abre e as palavras saem e martelam
na minha cabeça com muita força. Feia. Suja. Burra. Macaca. É quando eu recuo e
me encolho. Sem querer eu dou força a essas palavras e me sinto muito mal, somatizo, fico até doente. Mesmo depois ouvindo coisas positivas, elogios, muitas vezes eu
demoro a acreditar. Acho que a pessoa está falando para tentar me agradar.
Dependendo de quem fala, acho que é falsidade mesmo.
Hoje eu tenho consciência do quanto essa caixinha me afetou
quando abria. Destruí-la é impossível, então tenho que saber conviver com ela e
mudar a sua influência em mim. Então resolvi construir uma outra, essa sim, com
coisas boas, e sei que essa vai ofuscar aquela ruim. O engraçado é o tempo que
levei tomar essa atitude. Querendo me mostrar sempre forte, acabe me tornando
muito fraca. Mas eu não estava preparada pra lutar por mim. Mas esse ano difícil abriu portas pra isso.
Eu tinha a mania de escrever, e guardei uns diários antigos. Andei relendo alguns nesses últimos dias. Lembrei que desde pequena eu
não me conformava com tanta injustiça no mundo, tanta ingratidão, tanta dor.
Então eu chorava, mas não queria que ninguém visse esse momento. Pro mundo eu
tinha que estar ali, forte, mesmo com tanta gente querendo me dar porrada. Estranha
a consciencia que eu já tinha em mim, porque eu não chorava só porque tinha
problemas. Chorava pelas misérias da vida dos outros, por doenças de estranhos,
por gente que morria antes do tempo, por gente que perdia casa, por existir
guerra, eu soluçava e pedia pra Deus pra entender o porquê de tanto sofrimento
num mundo tão bonito. Eu não entendia porque as pessoas não enxergavam o belo. Daí nasceu minha vontade de mudar o mundo.
Eu morava em um bairro que tinha um pedacinho da Mata
Atlântica. Então eu pegava minha bicicleta e me enfiava naquele pedacinho de
floresta, as vezes sozinha ou com algum amigo do bairro, e sempre escondida
porque minha mãe e a minha vó tinham medo que alguma cobra me picasse. E no
mato eu esquecia o peso do mundo real e brincava com os bichos, inventava jogos, eu me limpava de toda aquela
energia que tentava me pegar. E voltava pra casa depois. Eu sempre amei a
natureza porque sempre foi nela, no seu silêncio, que consegui me recompor.
Que bom que eu era diferente. Hoje eu sei. Agradeço o aprendizado.
Por outro lado eu sempre fui rodeada de amor. Uma força tão
intensa que acabou me equilibrando pra ser uma pessoa positiva, e continuar
acreditando na força dele. Minha família, mesmo pequena, sempre foi muito viva.
A gente sempre canta e dança, briga, brinca e dá muita gargalhada. Por causa dessa
pequena base, nunca fui triste (a tristeza em mim sempre foi temporária) , porque
ela sempre me levantava. Por causa dela, sempre acreditei no amor, mesmo quando
tudo me mostrava que ele estava esquecido. E de forma intensa. Além dela, sempre tive bons amigos. Amigos de alma, de outras vidas, só pode ser, porque me completam. Eles tambem sempre me ensinaram sobre o amor.
Uma grande amiga uma vez me falou que eu vivo num mundo de
sonhos. E é verdade. Eu entrei nele muito pequenininha pra poder enfeitar minha
vida quando eu estava triste e ele sempre me deixou feliz. Mas não sei se meu
mundo de sonho é tão irreal assim. Pequenas coisas ultimamente tem me deixado
muito satisfeita. Eu tenho andado feliz, mesmo quando eu choro de saudades. E
estou vendo tantas cores em uma cidade cinza, como eu tinha parado de enxergar
na cidade realmente colorida. Não sei se me tornei cega ou se estou
vendo demais mesmo. Mas eu agradeço cada dia mais pela minha vida, pela vida ao
redor, pelas descobertas e dificuldades que passei pra estar onde estou hoje. E
eu não tenho nada que as pessoas acham que precisam ter aos 30 anos. Mas hoje
eu sinto, realmente sinto, como se tivesse tudo.