Minha princesa teve que partir porque ela não aguentava mais viver nessa realidade. E olha que ela tentou ao máximo. Sabia que se fosse de repente, ia me assustar demais. Então ela foi aos poucos. Esquecendo por partes, para que eu me acostumasse com a sua ausência. Tolinha, sempre pensando em mim. Esqueceu como cozinhava, esqueceu o nome das suas filhas, esqueceu seu endereço, esqueceu sua data de aniversário. Mas nunca se esqueceu de mim.
Ela me aguardou para o adeus final, como havíamos combinado anos atrás. Pedi para ela não ir sem que eu pudesse estar por perto. Então ela firme e forte, sempre tão forte, se lembrou da promessa, me aguardou e como sempre, reagiu à minha presença. Fui a última a tacar-lhe um beijo. Depois, partiu.
Como ela queria ter certeza de que eu saberia cuidar de mim, me fez cuidar dela antes. E assim eu deixei de ser sua menininha do tamanho de três palmos do chão, e ela passou a ser minha levada que batia palminha e brincava assustada. E eu aprendi direitinho.
Agora que ela não é mais minha princesa esquecida, mas sim meu anjinho mais velho, pedi para que ela aproveitasse que estaria pertinho do Pai para falar para ele nunca deixar de olhar para mim. Até parece que ela permitiria que Ele se distraísse. Agora estou com proteção elevada ao quadrado, potencializada por um milhão, e chegando perto do infinito. Que ninguém se atreva a mexer comigo agora.
E quando a saudade estiver tão grande, do tamanho de uma super explosão, ela vai vir conversar comigo nos meus sonhos e aí eu vou voltar a me lembrar que estaremos sempre por perto e não tem porque sentir tanta dor. E quando chegar a minha vez de renascer, ela vai me receber morrendo de rir, porque eu terei ficado tão velha, e ela terá rejuvenecido um tantão. Espertinha. Eu serei vovó, mas ela é que vai ter que fazer o bolinho de chuva com chá.
Obrigada, minha vida.